Os humores da distribuição
cinematográfica portuguesa (entenda-se “lisboeta”, com a nossa vénia e perdão
para o resto do país cinéfilo) são fonte de pasmo continuado para o Cinéfilo
Preguiçoso. Como aconteceu em 2013, o final de 2014 regista uma concentração
estonteante de estreias e reposições. Entre as quatro curtas de Manoel de
Oliveira (incluindo a sua mais recente obra, O Velho do Restelo), o último
Cronenberg (Mapas para as Estrelas), dois clássicos de Chaplin que nos caem
não se sabe bem de onde (mas que não se recusam), um documentário animado de
Michel Gondry sobre uma conversa com Noam Chomsky (É Feliz o Homem que É Alto?)
e mais um capítulo da saga de Ventura (Pedro Costa, Cavalo Dinheiro), sobra
pouco tempo para comprar as prendas e o bolo-rei. Tamanha fartura tem como efeito
secundário a indolência e a vontade de ficar no recato do lar a ver um DVD (por
exemplo, o último capítulo de A História do Cinema, de Mark Cousins - muito
recomendável, mau grado os ocasionais desvarios e a ausência de menção a Éric
Rohmer) e a recordar os detalhes de Saint Laurent, um filme singularmente
cerebral e físico que confirma Bertrand Bonello como um realizador a não perder
de vista.