25 de maio de 2015

O Grande Museu



O Grande Museu (real. Johannes Holzhausen, 2014) é um documentário sobre o Museu de História da Arte de Viena que estreou em Portugal conjuntamente com National Gallery, do veterano Frederick Wiseman (que o Cinéfilo Preguiçoso ainda não viu, mas espera ver em breve). Além da ligação temática óbvia, existem semelhanças de registo e método que justificam o emparelhamento destes filmes. Como costuma acontecer nos documentários de Wiseman, Holzhausen abdica dos comentários e abrange uma grande diversidade de facetas, escalas e aspectos, sem parecer obedecer a qualquer sistema ou hierarquia. O resultado é um convite tácito a que o espectador crie as suas próprias narrativas, o que não quer dizer que o realizador pretenda oferecer objectividade absoluta, situando a subjectividade interpretativa totalmente na recepção do filme. Filmar e escolher aquilo que se mostra implica tomar partido e influi nas dinâmicas do que é filmado, como se pode constatar vendo como os participantes, dos directores aos conservadores, passando pelos vigilantes, resistem mal à tentação (ou ao incitamento do realizador?) de dramatizar as suas intervenções e representar pequenas cenas, de acordo com aquilo que se espera que suceda num filme. Subsiste uma noção de museu como máquina dotada de lógica e orgânica, sustentada por uma multiplicidade de gestos e negociações quotidianos, onde se esbate a distinção entre as minúcias do protocolo para receber o Presidente da República e a avaliação dos estragos provocados num quadro pelo escaravelho-da-farinha.