17 de abril de 2016

Mergulho Profundo



Pode parecer estranho confessar que se espera alguma surpresa de um filme que se integra num subgénero muito específico, de um remake, ou até do mundo em geral, mas convém que o universo não se afunde sempre na repetição e na satisfação de expectativas. Não foi por ser um remake do filme A Piscina de Jacques Deray (1969) que o Cinéfilo Preguiçoso se interessou por Mergulho Profundo, de Luca Guadagnino (2015). Foi por causa do realizador, responsável pelo belíssimo Eu Sou o Amor (2009). Outro elemento de interesse foi o subgénero, caracterizado pela tensão entre, por um lado, a atmosfera paradisíaca de um lugar idílico e isolado, incluindo habitualmente um(a) adolescente tentador(a), e, por outro, a sensação de ameaça ou perigo iminente, como nos filmes Swimming Pool, de François Ozon (2003) ou Beleza Roubada, de Bernardo Bertolucci (1996). A variação mais importante que Mergulho Profundo acrescenta a este modelo reside no campo de forças definido pelo par de protagonistas. Desde o princípio se percebe que Harry Hawkes (Ralph Fiennes), produtor de música, é um homem com um plano: recuperar a ex-companheira Marianne Lane (Tilda Swinton). Ralph Fiennes, um actor shakespeariano conhecido pela intensidade contida e quase fria, desempenha aqui um papel muito diferente do habitual: Harry é absolutamente histriónico e descontrolado; se os outros não desconfiassem dele, seria maior do que a vida; como desconfiam, vê-se reduzido ao papel de Iago, sempre a tentar contaminá-los com sugestões e suspeitas reais ou injustificadas. Em contraste com esta verbosidade exibicionista, Tilda Swinton assume a personagem de uma cantora rock que perdeu a voz e se vê obrigada a manter-se em silêncio – uma situação bastante perturbadora para o espectador, diga-se de passagem. Perante estas duas figuras tão fortes, Dakota Johnson e Mathias Schoenaerts desempenham meramente o duplo papel de adjuvantes/oponentes. Morre sempre alguém nestes filmes ou livros em torno de uma piscina. Quando isso acontece em Mergulho Profundo, o espectador não fica surpreendido. Swimming Pool, de François Ozon, em contraste, reserva para o final uma variação decisiva, uma surpresa que transfigura tudo. A ausência desta surpresa, mais do que os ademanes estilísticos do realizador, torna o filme de Guadagnino muito menos interessante do que o de Ozon.