Pode parecer estranho confessar que se espera
alguma surpresa de um filme que se integra num subgénero muito específico, de
um remake, ou até do mundo em geral,
mas convém que o universo não se afunde sempre na repetição e na satisfação de
expectativas. Não foi por ser um remake do
filme A Piscina de Jacques Deray
(1969) que o Cinéfilo Preguiçoso se interessou por Mergulho Profundo, de Luca Guadagnino (2015). Foi por causa do
realizador, responsável pelo belíssimo Eu
Sou o Amor (2009). Outro elemento de interesse foi o subgénero,
caracterizado pela tensão entre, por um lado, a atmosfera paradisíaca de um
lugar idílico e isolado, incluindo habitualmente um(a) adolescente tentador(a),
e, por outro, a sensação de ameaça ou perigo iminente, como nos filmes Swimming Pool, de François Ozon (2003)
ou Beleza Roubada, de Bernardo
Bertolucci (1996). A variação mais importante que Mergulho Profundo acrescenta a este modelo reside no campo de
forças definido pelo par de protagonistas. Desde o princípio se percebe que
Harry Hawkes (Ralph Fiennes), produtor de música, é um homem com um plano:
recuperar a ex-companheira Marianne Lane (Tilda Swinton). Ralph Fiennes, um
actor shakespeariano conhecido pela intensidade contida e quase fria,
desempenha aqui um papel muito diferente do habitual: Harry é absolutamente
histriónico e descontrolado; se os outros não desconfiassem dele, seria maior
do que a vida; como desconfiam, vê-se reduzido ao papel de Iago, sempre a
tentar contaminá-los com sugestões e suspeitas reais ou injustificadas. Em
contraste com esta verbosidade exibicionista, Tilda Swinton assume a personagem
de uma cantora rock que perdeu a voz e se vê obrigada a manter-se em silêncio –
uma situação bastante perturbadora para o espectador, diga-se de passagem.
Perante estas duas figuras tão fortes, Dakota Johnson e Mathias Schoenaerts desempenham
meramente o duplo papel de adjuvantes/oponentes. Morre sempre alguém nestes
filmes ou livros em torno de uma piscina. Quando isso acontece em Mergulho Profundo, o espectador não fica
surpreendido. Swimming Pool, de
François Ozon, em contraste, reserva para o final uma variação decisiva, uma
surpresa que transfigura tudo. A ausência desta surpresa, mais do que os
ademanes estilísticos do realizador, torna o filme de Guadagnino muito menos
interessante do que o de Ozon.