29 de janeiro de 2017

Arrival


Até o seguidor mais ocasional e distraído do cinema de ficção científica reconhecerá sem dificuldade em Arrival/O Primeiro Encontro (2016) numerosos temas e tropos recorrentes: a ansiedade e as fricções decorrentes do contacto entre terrestres e visitantes alienígenas (Encontros Imediatos do Terceiro Grau, 1977), o contraste entre a cegueira e brutalidade das autoridades e as intenções puras de uma personagem que consegue estabelecer uma relação significativa com os extraterrestres (E.T. – O Extraterrestre, 1982) e até uma alusão visual ao monólito negro de 2001: Odisseia no Espaço (1968), cuja semelhança com cada uma das doze naves que aterram subitamente em vários pontos do globo parece ser mais do que acidental. Usando de um pouco de cinismo, poder-se-ia apontar mais dois aspectos que ancoram este filme na tradição e nas convenções da ficção científica hollywoodesca: o facto de, mesmo tratando-se de uma situação planetária, caber aos norte-americanos o papel de salvadores do mundo; o paralelismo entre o problema global e os problemas pessoais das personagens. A vertente mais original deste filme oitava longa-metragem do canadiano Denis Villeneuve  é também a mais interessante: a exploração dos problemas linguísticos inerentes às tentativas de comunicação e o papel preponderante da personagem principal, Louise, uma linguista e tradutora recrutada pelo exército para a missão de contacto e que percebe que a linguagem ideogramática que os extraterrestres oferecem é indissociável de uma concepção não-linear do tempo. O filme vale sobretudo pela maneira austera mas envolvente como mostra as tentativas de estabelecimento de uma linguagem comum, mas seria injusto não mencionar a belíssima banda sonora de Jóhann Jóhannsson, a sofisticação técnica, que felizmente não redunda em espalhafato visual, e as interpretações de Amy Adams e de Forest Whitaker, dois actores que o Cinéfilo Preguiçoso há muito admira.