13 de maio de 2018

Frantz


Depois de vários falsos alarmes e adiamentos, eis que Frantz, de François Ozon (2016), baseado no filme O Homem que eu Matei, de Ernst Lubitsch (1932), estreou finalmente em Portugal. Não querendo perder esta estreitíssima janela de oportunidade, o Cinéfilo Preguiçoso precipitou-se para uma sala de cinema – e ainda bem que o fez. O cinema de Ozon costuma enfrentar dois perigos – a xaropada melodramática e o excesso de artificialidade e de pensamento. Fá-lo sempre destemidamente e nem sempre levando a melhor sobre eles. Quando, como no caso de Frantz, o realizador não sai derrotado deste confronto, produz filmes que nunca mais esquecemos. Precisamente nos momentos em que começamos a suspeitar que este filme perdeu o combate e já sabemos o que vai acontecer a seguir, temos uma surpresa. Oscilando entre sequências a cor e a preto e a branco, Frantz começa por parecer um filme sobre um triângulo amoroso que joga com a orientação sexual, depois transforma-se num filme de guerra em que um sobrevivente tenta redimir-se, a seguir acompanha a pulsão de morte de alguém que perdeu o noivo, convertendo-se posteriormente numa espécie de Vertigo em Paris, com uma banda sonora (de Philippe Rombi) muito próxima da de Bernard Herrmann, em que os protagonistas partilham ou confundem os destinos das personagens de Hitchcock – até ao momento final, que é uma maravilha e outra enorme surpresa. Aliás, a influência de, e homenagem a, Hitchcock e a Vertigo já eram assumidas no filme anterior, o desequilibrado, mas interessante, Uma Nova Amiga (2014). Em Frantz, Ozon não fracassa, mas mesmo os seus fracassos ( como 5x2, de 2004, e Le Temps qui Reste, de 2005) têm geralmente qualquer coisa que os recomenda. Frantz confirma ainda a constância dos temas e obsessões de Ozon ao longo de uma filmografia tão heterogénea e abundante: Anna é mais uma personagem que conta mentiras e inventa ficções para tentar mitigar o desajuste entre a realidade e as aspirações próprias ou de outras personagens, à semelhança do que acontece, por exemplo, em Sous le Sable (2000) e em Dans la Maison (2012). Esperemos que L’Amant Double (2017), o filme que estreou no ano passado em França, não demore tanto a estrear em Portugal.