24 de junho de 2018

Columbus


No filme Museum Hours (Jem Cohen, 2012), a protagonista viajava para a cidade de Viena para acompanhar os últimos momentos de alguém (uma simples conhecida) em coma no hospital. No filme Columbus (Kogonada, 2017) também Jin (John Cho) viaja da Coreia para a cidade no Indiana identificada no título, para acompanhar os últimos dias do pai, um famoso historiador de arquitectura, igualmente em coma no hospital. Enquanto esperam, os protagonistas destes dois filmes deambulam pelas respectivas cidades com a atenção de um visitante de museu interessado. Na Viena de Jem Cohen deparávamos com uma cidade cheia de rugosidades e de camadas temporais sobrepostas inspirando uma meditação sobre a morte; na Columbus de Kogonada encontramos percursos mais regenerativos, orientados para o futuro, entre a arquitectura modernista e quase utópica da cidade. A partir destes percursos surgem os diálogos entre duas personagens muito diferentes que ali se cruzam um pouco por acaso: o já referido Jin, e Casey (a extraordinária Haley Lu Richardson), que funciona como uma espécie de guia não só da cidade mas também da vida do interlocutor. Ao mesmo tempo que uma eventual faceta terapêutica da arquitectura é discutida por Casey e Jin, as conversas sobre os edifícios que visitam e a simples presença destes condicionam as trajectórias de ambos e ajudam-nos tanto a reflectir melhor sobre as suas situações como a lidar com os seus traumas. Podemos, além disso, dizer que tanto o filme de Kogonada como o de Jem Cohen são meditações sobre a atenção, na medida em que encontramos em ambos um interesse muito particular por elementos que facilmente passam despercebidos na vida de todos os dias. (Em Columbus, aliás, a dada altura uma das personagens interroga-se se teremos deixado de nos interessar pelo que é importante e, portanto, de lhe prestar atenção.) Columbus gira em torno das relações pai-filho e mãe-filha. Se Jin sempre teve uma relação (ou ausência de relação) problemática com o pai, incapaz de dedicar ao filho a atenção que dedicava à arquitectura, também Casey tem uma relação difícil com a mãe, em que há muito desempenha um papel protector. O primeiro aprende com a segunda que às vezes é preciso ficar, enquanto a segunda aprende com o primeiro que outras vezes é preciso partir. Kogonada é o pseudónimo de um artista que, antes desta sua primeira longa-metragem, alcançou alguma fama com os seus ensaios em vídeo sobre realizadores como Bresson e Wes Anderson. Este filme revela influências cinéfilas, em particular a de Ozu, que são declinadas quer em alusões visuais directas (os planos intercalares filmados a partir de pequenas ruas transversais, tão típicos do mestre japonês), quer em considerações sobre o dever e os laços familiares. O principal mérito de Columbus é conjugar o respeito pelos predecessores com a ambição, conseguida, de criar um objecto original.