O Cinéfilo Preguiçoso continua a recorrer à oferta dos canais de televisão para descobrir filmes que lhe escaparam aquando da estreia em sala. A Cidade Perdida de Z (2016), realizado por James Gray a partir de um livro de David Grann, baseia-se na vida de Percy Fawcett, um explorador inglês que fez várias expedições à Amazónia nas primeiras décadas do século XX e que acreditava na existência nessa zona de uma civilização avançada que teria deixado vestígios, talvez até uma cidade inteira. O que mais impressiona neste filme são a contenção e o equilíbrio formal. Os exemplos de Apocalypse Now (1979), Aguirre der Zorn Gottes (1972) ou Fitzcarraldo (1982) fariam recear que o tema da selva e da procura de uma cidade mítica convidasse a um registo de grandiloquência ou à exploração de traços psicóticos do protagonista. Nada mais longe da realidade: não só a abordagem de Gray não tem nada a ver com a de Coppola nem com a de Herzog, como Charlie Hunnam, no papel de Fawcett, está nos antípodas de Brando ou Kinski. A personagem principal é retratada como uma pessoa normal: um oficial do exército e pai de família, que aceita liderar a sua primeira expedição tanto para cumprir ordens superiores como para progredir na carreira, acabando por ficar obcecado com o objectivo de descobrir a cidade que baptizou de “Z” (porque, tal como esta é a última letra do alfabeto, essa descoberta seria “a última peça do puzzle”, indispensável para a compreensão da História da civilização na América do Sul). A Cidade Perdida de Z obedece a muitas convenções do género (incluindo a relação de Fawcett com o filho, inicialmente hostil, mas que acaba por seguir as pisadas do pai) e segue uma linha cronológica, com breves flashbacks. As cenas na Amazónia alternam com cenas em Inglaterra, incluindo debates com membros da Royal Geographic Society deveras cépticos, e com cenas nas trincheiras da Primeira Guerra Mundial, impondo um ritmo que pode ter a ver com a preocupação de preservar a economia narrativa, mas que ajuda a manter o filme centrado na personagem de Fawcett, cujo carisma discreto resiste ao tempo e às mudanças de cenário. Talvez o maior mérito de James Gray seja o de, graças às escolhas conservadoras ao nível da estética e do argumento do filme, conseguir equilibrar as várias facetas do filme. O resultado é uma obra coerente e muito rica do ponto de vista humano, que se vê com interesse sobretudo pelo facto de o realizador não ter explorado histrionismos nem explorações estereotipadas da natureza do mal ou da loucura.