2 de julho de 2017

A Viagem de Chihiro | Lixo Extraordinário


Estamos no Verão. Além de Paterson, não há nada de apaixonante para ver nos cinemas. O Cinéfilo Preguiçoso recorre à colecção de DVDs e ao que de interessante possa passar na televisão que entretanto lhe tenha escapado. Em A Viagem de Chihiro, uma animação do estúdio Ghibli com realização de Hayao Miyazaki (2001), vista na RTP2, uma menina de dez anos e os pais vão mudar-se para uma cidade diferente. Prestes a chegarem, encontram por acaso um misterioso túnel que vai dar ao que parece ser um parque de diversões abandonado, onde estranhamente encontram um restaurante com comida a que não conseguem resistir. Os prodígios e aventuras que se seguem, com deuses, feiticeiros e espíritos, combinam referências a Alice no País das Maravilhas, Murakami, mitologia grega, cultura oriental e ecologia. Ainda assim, este filme consegue não só surpreender, por meio das reviravoltas do enredo, mas também encantar, graças à beleza e das imagens. É como darmos por nós num sítio onde pensávamos nunca ter estado antes mas que parece estranhamente familiar. A Viagem de Chihiro recebeu o Urso de Ouro no Festival de Berlim de 2002 (ex aequo com Bloody Sunday, de Paul Greengrass), além do Óscar de Melhor Filme de Animação de 2003. Mais recentemente, ouvimos falar deste filme por fazer parte da (discutível) lista dos melhores filmes do século vinte um do New York Times. Por sua vez, o documentário Lixo Extraordinário (Lucy Walker, João Jardim, Karen Harley, 2010), visto em DVD, acompanha o projecto do artista brasileiro Vik Muniz no Jardim Gramacho, um aterro que funcionou entre 1976 a 2012, tendo chegado a receber mais de sete mil toneladas diárias de resíduos químicos e orgânicos. Este documentário tem interesse não tanto por desenvolver uma reflexão digna de nota sobre o universo da arte moderna e sobre a antropologia do lixo, dimensões muito incipientes no filme, mas sim, por um lado, pela informação que fornece sobre este aterro e, por outro, pela participação de sete catadores de material reciclável que lá trabalhavam. Estes tornam-se também assunto da obra de Muniz, que os faz posar para composições que misturam imagem fotográfica e materiais do aterro, posteriormente vendidas para apoiar a associação de trabalhadores. Sem escamotear o horror das condições de trabalho do local, o documentário trata sempre estas pessoas como seres humanos dignos e iguais a todos nós.