11 de novembro de 2018

Sixteen Candles


Sixteen Candles (1984), de John Hughes, é um objecto relativamente estranho, apesar de fundir dois géneros do cinema americano imediatamente reconhecíveis: o filme sobre a adolescência e o filme sobre o potencial de catástrofe de um dia de casamento. Esta estranheza deve-se, em primeiro lugar, ao desconforto das personagens: não só a inépcia da adolescência é devidamente retratada em todos os seus pequenos problemas e grandes desastres, mas também os adultos de todas as faixas etárias são representados como adolescentes em ponto grande, sofrendo das mesmas dificuldades e inadaptações destes, mas a uma escala maior – o desregramento do baile de escola prolonga-se sem rupturas na desordem e na desorientação da cerimónia de casamento no dia seguinte. Em segundo lugar, dentro do filme sobre a adolescência, Sixteen Candles distingue-se por articular dois subgéneros: o que presta mais atenção às «tropelias» e aos «disparates» dos rapazes (chamemos-lhes assim, embora alguns dos actos representados neste filme talvez hoje fossem puníveis com prisão); e o que presta mais atenção ao suposto imaginário sentimentalista das raparigas, associado ao final convencionalmente feliz do filme. Deste modo, John Hughes, satiriza a classe média americana e os seus subúrbios, descrevendo-a como um conjunto de adolescentes aparvalhados que não sabem muito bem o que fazer com eles próprios, mas consegue preservar o núcleo de protagonistas, que, parecendo de algum modo incólumes a tudo o que os rodeia, se destacam não só pela beleza, mas também pelo individualismo e pela sensatez. Neste contexto, salienta-se a figura única de Molly Ringwald, com quem John Hughes teve uma relação que ele próprio  gostava de comparar com aquela entre Jean-Pierre Léaud e François Truffaut, pelo facto de ela ter funcionado como misto de musa e alter ego num conjunto de filmes em que ele esteve envolvido como realizador e/ou argumentista (além deste, The Breakfast Club, de 1985, e Pretty in Pink, de 1986). A personagem de Ted, interpretada por Anthony Michael Hall (outro colaborador habitual de Hughes), também merece destaque pela maneira como evolui: da fanfarronice típica do miúdo que se arma em adulto, até ao bom senso e à clarividência que contribuem para o desfecho do filme. Por todos estes motivos, visto quase trinta e cinco anos depois da sua estreia, Sixteen Candles é um filme que continua a interessar e a surpreender graças ao modo como ao mesmo tempo problematiza e satisfaz as convenções dos géneros que trabalha.