17 de março de 2019

The Breakfast Club


Os filmes em cartaz não andam inspiradores. Portanto, mais uma semana, mais um DVD. Sempre interessado na cultura dos anos oitenta, o Cinéfilo Preguiçoso viu The Breakfast Club (1985), de John Hughes. Começando com a famosa canção “Don’t You (Forget About Me)”, dos Simple Minds, este filme parte de uma ideia curiosa: fechar cinco adolescentes numa escola durante um sábado, como castigo pelas infracções que cada um terá cometido, e ver o que resulta dessa ausência de acção forçada. Cada uma das personagens principais corporiza uma figura típica dos liceus americanos e dos inúmeros filmes sobre este universo: uma princesinha ou menina rica e popular (Molly Ringwald), um desportista (Emilio Estevez), um bom aluno (Anthony Michael Hall), um rufia (Judd Nelson) e uma neurótica (Ally Sheedy). Exprimindo as idiossincrasias das personagens, os corpos dos actores distribuem-se pelo espaço da biblioteca e da escola, com alguns momentos mais coreográficos, próximos da estética do videoclip – por exemplo, a sequência de dança perto do fim do filme, ou, mais ou menos a meio, o percurso do grupo através dos corredores vazios, nos limites do slapstick.  As infracções que os colocaram naquela situação são reveladas gradualmente, à medida que vão progredindo as conversas entre as personagens, que abordam de modo surpreendentemente franco as dificuldades com que têm de lidar todos os dias, nomeadamente as pressões sociais e parentais. Os únicos adultos presentes no filme são um professor desmotivado e autoritário e o encarregado de manutenção da escola, mas os pais são descritos como responsáveis pelas frustrações das personagens, na medida em que impõem interesses, objectivos e comportamentos com que os filhos não se identificam necessariamente, mas em relação aos quais não demonstram capacidade de resistência. Como já acontecia em Sixteen Candles (John Hughes, 1984), os adolescentes parecem totalmente à mercê dos caprichos e falhas de adultos incapazes e superficiais. The Breakfast Club tem muito que o recomende. Em primeiro lugar, apesar de se apoiar em personagens estereotipadas, surpreende pela ausência de superficialidade no discurso destas. Esta ausência de superficialidade expressa-se na recusa de moralismos fáceis. Ao contrário do que se verifica noutros filmes com personagens desta idade, a energia selvagem da adolescência não é nem escamoteada nem imbecilizada; não há mensagens de reconciliação universal de forças opostas nem caos generalizado. A dada altura, as personagens discutem se continuarão a ser amigas depois daquele dia e chegam à conclusão de que as diferenças sociais e a pressão dos grupos que integram são mais fortes do que a conexão breve e precária que conseguiram estabelecer; não duvidamos. Através dos diálogos, da fotogenia e da energia dos actores, John Hughes explora a adolescência como idade de embates verbais, físicos e visuais que não salvam nem tão-pouco mudam o mundo.