21 de setembro de 2015

Irrational Man



O Cinéfilo Preguiçoso não leva o zelo ao ponto de escolher os destinos turísticos de acordo com os filmes que quer ver, mas por vezes é bafejado pela sorte. Foi assim que, neste Verão, não hesitou ao saber que o novo filme de Woody Allen, Irrational Man (2015), ia ser exibido numa sala de aspecto simpático mas vagamente antiquado, nas Galerias Reais, bem no centro de Bruxelas, onde foi recebido por um funcionário de bilheteira entusiasta.  Anualmente, a estreia de um novo Woody é acolhida pelo inevitável cortejo de sentenças e interrogações: estará o filme à altura das suas obras anteriores? Se é certo que obras-primas como Annie Hall (1977), Manhattan (1979) ou Hannah and Her Sisters (1986) parecem difíceis de repetir, a discussão pontual sobre a qualidade de cada filme desvia as atenções da perspectiva global sobre a obra de Woody Allen. Quarenta e seis anos depois de Take the Money and Run, a sua filmografia surge como uma admirável contínuo de temas, obsessões e personagens, movido por um impulso de cinema onde cabem o profissionalismo e a paixão. (É refrescante o contraste com realizadores que ficam dez ou quinze anos à espera do sopro da inspiração ou das condições de produção ideais.) Sobre Irrational Man, que fique dito: Joaquin Phoenix domina o filme, como sempre; o tema (envolvendo moral, mal-entendidos filosóficos, uma escolha e um homicídio) remete claramente para Match Point (2005); é delicioso o pormenor de a personagem de Emma Stone ser salva pelo seu espírito prático e pela pequena lanterna que escolheu numa tômbola, em vez de um objecto mais vistoso; não, não é um filme genial, mas a falta de génio de Woody Allen é muito mais estimulante do que grande parte do cinema hoje em dia.