21 de janeiro de 2018

Chama-me pelo Teu Nome

Adaptado do romance homónimo de André Aciman, Chama-me pelo Teu Nome (2017) é um filme realizado por Luca Guadagnino. James Ivory, cuja extensa carreira como realizador dispensa apresentações, assina o argumento. O enredo, que tem lugar na Lombardia no verão de 1983, é protagonizado por Elio (Timothée Chalamet), um adolescente multilingue e de temperamento artístico, e Oliver (Armie Hammer), um americano de proporções hercúleas que visita a família de Elio para trabalhar com o pai deste, um professor de arqueologia. Chama-me pelo Teu Nome não traz nada de essencialmente novo ao subgénero coming of age e ao tema da paixão estival em cenário idílico, explorada até à exaustão na história do cinema. A aproximação entre Elio e Oliver é mostrada de forma bastante clássica, não faltando os avanços, recuos, elipses, hesitações e mal-entendidos. A «reconstituição» dos anos oitenta contrasta com o carácter fora do tempo da relação, acentuado pelas descobertas arqueológicas no mar. Alguns dos maneirismos de Guadagnino, toleráveis nas suas obras anteriores (em particular no soberbo Eu Sou o Amor, de 2009, mas também no mais desequilibrado Mergulho Profundo, de 2015), resultam aqui deveras irritantes, talvez por se tratar de um filme com um tom mais calmo e isento de erupções emocionais muito explícitas, onde qualquer truque ou exibicionismo se torna mais conspícuo. Um exemplo é a maneira como o realizador explora a profundidade de campo para acentuar a tensão dramática entre duas personagens. O recurso a metáforas visuais eróticas envolvendo fruta fresca também deixou o Cinéfilo Preguiçoso um tanto céptico, embora se enquadre na tendência de Guadagnino para esticar a corda e incluir momentos de gosto duvidoso em todos os seus filmes. Ainda assim, o filme vale pela maneira discreta mas eficaz como nos mostra uma época relativamente próxima mas que parece já tão distante, pelo modo como, apesar da atmosfera idílica, consegue captar algumas das correntes subterrâneas típicas do melodrama, pela fotografia belíssima (da responsabilidade de Sayombhu Mukdeeprom, habitual colaborador de Apichatpong Weerasethakul e que trabalhou com Miguel Gomes em As Mil e Uma Noites, de 2015) e pela magnífica banda sonora que inclui três canções de Sufjan Stevens, além do excelente primeiro movimento de Hallelujah Junction, de John Adams.