O Meu Belo Sol Interior, de Claire Denis (2017), foi
inspirado pelo famoso livro Fragmentos de
Um Discurso Amoroso, em que Roland Barthes reflecte sobre os dilemas das
relações afectivas – não só heterossexuais. No filme seguimos as aventuras
sentimentais de uma pintora (Juliette Binoche) de meia-idade com os homens com
quem se vai relacionando. O Meu Belo Sol
Interior assenta em confrontos verbais longos e cansativos em que os
parceiros da protagonista debitam as banalidades que se convencionou serem
tipicamente masculinas, suscitando uma insatisfação que também se convencionou
ser tipicamente feminina: enquanto os homens pretendem apenas relações breves,
a protagonista procura uma relação mais duradoura. O facto de as banalidades discursivas
ficarem quase todas a cargo dos homens, quando o próprio discurso feminino
sobre o amor pode ser igualmente rico em dislates e absurdos, não contribui
para tornar o filme interessante. Além disso, enquanto o livro de Barthes
explora subtilezas e percepções mínimas, O
Meu Belo Sol Interior fica à superfície, insistindo em lugares-comuns para os
quais a paciência do Cinéfilo Preguiçoso se vai mostrando escassa. Parece ser
intenção do filme proceder a uma abordagem irónica ao papel das palavras na
vida, nas relações humanas e no cinema: a protagonista surge quase sempre
enredada em conversas sem saída e só encontra alguma paz e felicidade quando o
silêncio se impõe. É inevitável, no entanto, por um lado, duvidar-se um pouco
da ironia de diálogos que já ouvimos em tantos sítios diferentes e, por outro,
sentir falta de protagonistas femininas que não tenham a vida afectiva como
preocupação exclusiva – em contraste, ver, por exemplo, a personagem de
Isabelle Huppert no filme L’Avenir,
de Mia Hansen-Løve. Claire Denis é (a par, por exemplo, de Jean-Claude Brisseau
ou Alain Guiraudie) uma daquelas realizadoras cuja originalidade e ousadia
contribuem muito mais para a riqueza do cinema francês do que alguns nomes bem mais
mediáticos. Fica-se à espera de um filme seu que se aproxime da excelência do
extraordinário Beau Travail (1999),
do belíssimo 35 Rhums (2008), ou
ainda desse maravilhoso filme-entrevista a Jacques Rivette (co-realizado por
Serge Daney) chamado Jacques Rivette, le
Veilleur (1990).