2 de setembro de 2018

Ama-San | Juliet, Nua


De regresso de férias, dois filmes. O fim do Verão é uma boa altura para se ver Ama-San, de Cláudia Varejão (2016). Este documentário segue o modo de vida de um grupo de mulheres japonesas que praticam o mergulho em apneia para pescarem abalones e outros moluscos comestíveis. É interessante o enorme contraste entre, por um lado, os rituais, o equipamento e os gestos específicos da profissão singular e arcaica que estas mulheres exercem e, por outro, a normalidade do seu quotidiano extraprofissional e familiar. A ausência de contextualização e informação (lembrando um pouco o estilo de Frederick Wiseman) sobre este ofício tradicional estranho ao olhar ocidental, embora por vezes seja um pouco desconcertante, convoca a atenção do espectador. Por esse motivo e também graças à beleza das imagens, Ama-San é um documentário que lava os olhos e talvez nos ajude a despedir do Verão. Quanto a Juliet, Nua (Jesse Peretz, 2018), baseado num romance de Nick Hornby com o mesmo título, o grande problema é não trazer nada de novo. Quem conhece a obra de Hornby e alguns filmes a que deu origem, como Alta Fidelidade (Stephen Frears, 2000) e Era Uma Vez Um Rapaz (Chris e Paul Weitz, 2002), não pode contar com grandes surpresas. Hornby costuma interessar-se por personagens falhadas e insatisfeitas com a estagnação da própria vida. As personagens de Juliet, Nua recordam imediatamente figuras e histórias de outros filmes – inspiradas por livros de Hornby e não só. Em Alta Fidelidade já tínhamos cromos aficionados por música muito semelhantes a Duncan (Chris O’Dowd). Já em Era Uma Vez Um Rapaz, o protagonista (Hugh Grant), um inventor da protecção de cartão para os copos de café que vivia dos rendimentos dessa criação, se cruzava com alguém (o miúdo referido no título) que o fazia ver a vida com novos olhos e começar do zero. Aliás, o mesmo Hugh Grant, no filme Música e Letra (Marc Lawrence, 2007), que não se baseia num livro de Nick Hornby, encarnava um músico numa fase decadente – a mesma situação de Tucker Crowe (Ethan Hawke) em Juliet, Nua. Será a imaginação do Cinéfilo Preguiçoso a fazer das suas, ou a caracterização de Tucker Crowe lembra a de Jeff Bridges em The Big Lebowski (Joel e Ethan Coen, 1998)? Em suma, Juliet, Nua é um filme bastante inofensivo, sem momentos altos nem intensidade, que cultiva uma melancolia morna também já vista noutros filmes.