22 de setembro de 2019

Unrelated


Depois de tanto ouvir falar de Joanna Hogg durante este ano, o Cinéfilo Preguiçoso decidiu começar a ver a obra desta realizadora britânica desde o princípio, antes de chegar ao tão aclamado The Souvenir (2019). À primeira vista, Unrelated (2007) é mais um filme sobre um grupo de ingleses ou americanos a passarem férias em Itália ou no Sul de França. É inevitável recordarmos imediatamente Beleza Roubada (Bernardo Bertolucci, 1996), Chama-me pelo Teu Nome (Luca Guadagnino, 2017) ou alguns filmes de Éric Rohmer. Ao contrário destes filmes, no entanto, Unrelated pouco ou nada tem de idílico. Além de o espaço ser retratado como mais seco e inóspito do que é habitual, o grupo de amigos que passam férias nos arredores de Siena não demonstra interesse por livros nem se entrega a conversas apaixonantes. Anna (Kathryn Worth), a protagonista, situa-se entre os dois grupos em que as personagens se dividem, sem encaixar em nenhum deles: nem no dos casais mais velhos (entre os quais tem uma amiga de infância), nem no dos filhos adolescentes destes casais. A câmara filma tudo com o mesmo distanciamento que a protagonista sente. Dentro de casa, como se o presente já estivesse imbuído de passado, tanto a câmara como Anna se movem como se pelos corredores de um museu, ao sabor do interesse despertado por um ou outro enquadramento, como nos acontece às vezes perante determinadas pinturas. Fora de casa, as personagens conversam à mesa ou junto à piscina, fazem compras, dão alguns passeios pela cidade. O grupo dos adultos parece não só totalmente desinteressante mas também desinteressado da vida; o grupo dos jovens parece igualmente desinteressante, mas pelo menos está interessado em viver. Entre os jovens, destaca-se Oakley (Tom Hiddleston), uma figura que, embora contaminada por esta mediocridade, lembra Tadzio de Morte em Veneza, enquanto símbolo de uma juventude e beleza que simultaneamente fascinam e escapam à protagonista. A maior parte do filme decorre nesta atmosfera mediana, em que mesmo os pontos altos são triviais, entre conversas de telemóvel da protagonista com o marido, ausente destas férias. Só perto do fim do filme percebemos as razões para o estado de espírito e para a desconexão de Anna, naquele que é o único salto narrativo num filme que vale a pena a ver sobretudo por não ser narrativo. A primeira longa-metragem de Joanna Hogg deixa adivinhar uma realizadora subtil, atenta à opacidade das aparências e desinteressada tanto de histórias bem contadas como de grandes dramatismos – características invulgares que despertam a curiosidade em relação aos seus outros filmes.