7 de outubro de 2018

Guerra Fria


Esta semana, o Cinéfilo Preguiçoso viu Guerra Fria (2018), o filme mais recente de Paweł Pawlikowski, que, depois de muitos anos a trabalhar no Reino Unido, alcançou visibilidade internacional a partir do momento em que voltou à sua Polónia natal para filmar Ida (2013), a longa-metragem anterior a esta. Na primeira parte do filme, acompanhamos a formação de um colectivo com o objectivo de mostrar a tradição musical polaca aos países da esfera socialista, após a Segunda Guerra Mundial. As duas personagens principais do filme são o pianista do grupo e uma das jovens recrutadas para fazer parte deste. O enredo acompanha esta relação, condicionada pelas clivagens políticas da época, ao longo de cerca de quinze anos e de várias cidades europeias. O filme tenta, sem grande sucesso, injectar alguma credibilidade e pathos numa relação conflituosa, parecida com tantas outras, no cinema e fora dele. O caderno de encargos, que consiste em, por um lado, resumir uma relação de década e meia em noventa minutos e em, por outro, explorar com um mínimo de profundidade o conflito entre os destinos pessoais das personagens e o fluxo inexorável da História era talvez demasiado ambicioso. É ténue a fronteira entre parcimónia e superficialidade, e, infelizmente, o filme transpõe demasiadas vezes essa fronteira, deixando no final a sensação de pouco ter acrescentado ao mundo e de alguma arbitrariedade nas sucessivas reviravoltas da relação entre os protagonistas. Guerra Fria acaba por valer sobretudo pelo primeiro terço, onde os elementos dramáticos são explorados com uma demora e espessura que faltam ao resto do filme, bem como pelas belas imagens a preto e branco da Polónia rural (fica aqui a devida vénia a Łukasz Żal, que já fora co-responsável pela fotografia de Ida). Do facto de ter atribuído a Pawlikowski o prémio de Melhor Realização, deduz-se que o júri do Festival de Cannes, presidido por Cate Blanchett, não partilhou estas reservas.

Como nota final, o Cinéfilo Preguiçoso faz questão de exprimir algum desencanto pela programação pouco estimulante da Festa do Cinema Francês. Parece confirmar-se, na secção das antestreias, a tendência para privilegiar filmes dirigidos ao grande público, seguindo uma lógica que não parece a mais adequada para valorizar a riqueza do cinema francês.