Esta
semana, foi mais difícil escolher um filme. Como os cinemas estão fechados, o
universo de escolha do Cinéfilo Preguiçoso circunscreveu-se a DVDs, videoclube
da operadora de telecomunicações e filmes gravados na televisão. Preferindo,
neste momento, um filme que não sobrecarregasse de conteúdo a sua cabecinha já
de si preocupada, o Cinéfilo Preguiçoso optou por Onde Estás, Bernadette?
(Richard Linklater, 2019), disponível nos videoclubes. Baseado num romance de
Maria Semple (que também foi argumentista de séries como Beverly Hills 90210
ou Mad About You) sobre uma arquitecta em bloqueio criativo, é um filme
muito mais convencional do que outros de Richard Linklater, que aqui se limita
a contar uma história e a filmar um argumento, sem a reflexão visual
e/ou verbal a que nos habituou em filmes como Waking Life (2001), Boyhood
(2014) ou na série Before Sunrise (1995)/Before Sunset
(2004)/Before Midnight (2013). Vivendo numa casa decrépita em Seattle
cheia de recantos inesperados e opções de arrumação originais, a protagonista
(interpretada por Cate Blanchett), misantropa com justificação, sofrendo de uma
ponta de agorafobia, porém fascinada por espaços e problemas arquitectónicos de
resolução praticamente impossível, é interessante, mas o filme explora as suas
obsessões de modo decorativo e superficial. Esta personagem merecia um filme mais
forte e menos sentimental. O final, que nos mostra um reencontro familiar na Antárctida,
é uma tentativa pouco convincente de conciliar a exaltação dos valores
familiares e o respeito pelo potencial criativo de Bernadette. A resolução de
vinte anos de bloqueio criativo e problemas pessoais surge como um passe de
mágica: é indolor, instantânea e parece falsa. Visualmente, Onde Estás, Bernadette? lembra um pouco A
Vida Secreta de Walter Mitty (Ben Stiller, 2013) ou certos aspectos dos
filmes de Mike Mills, como o recurso a sequências de documentário, embora
usados sempre de modo mais preguiçoso e menos orgânico do que nos filmes deste
realizador. Do ponto de vista estético, Onde Estás, Bernadette? deixa a desejar.
Distrai um pouco, no entanto, e podemos sempre tentar imaginar como este
material de partida poderia ter sido usado para fazer um bom filme.