22 de março de 2020

Onde Estás, Bernadette?


Esta semana, foi mais difícil escolher um filme. Como os cinemas estão fechados, o universo de escolha do Cinéfilo Preguiçoso circunscreveu-se a DVDs, videoclube da operadora de telecomunicações e filmes gravados na televisão. Preferindo, neste momento, um filme que não sobrecarregasse de conteúdo a sua cabecinha já de si preocupada, o Cinéfilo Preguiçoso optou por Onde Estás, Bernadette? (Richard Linklater, 2019), disponível nos videoclubes. Baseado num romance de Maria Semple (que também foi argumentista de séries como Beverly Hills 90210 ou Mad About You) sobre uma arquitecta em bloqueio criativo, é um filme muito mais convencional do que outros de Richard Linklater, que aqui se limita a contar uma história e a filmar um argumento, sem a reflexão visual e/ou verbal a que nos habituou em filmes como Waking Life (2001), Boyhood (2014) ou na série Before Sunrise (1995)/Before  Sunset (2004)/Before Midnight (2013). Vivendo numa casa decrépita em Seattle cheia de recantos inesperados e opções de arrumação originais, a protagonista (interpretada por Cate Blanchett), misantropa com justificação, sofrendo de uma ponta de agorafobia, porém fascinada por espaços e problemas arquitectónicos de resolução praticamente impossível, é interessante, mas o filme explora as suas obsessões de modo decorativo e superficial. Esta personagem merecia um filme mais forte e menos sentimental. O final, que nos mostra um reencontro familiar na Antárctida, é uma tentativa pouco convincente de conciliar a exaltação dos valores familiares e o respeito pelo potencial criativo de Bernadette. A resolução de vinte anos de bloqueio criativo e problemas pessoais surge como um passe de mágica: é indolor, instantânea e parece falsa. Visualmente, Onde Estás, Bernadette? lembra um pouco A Vida Secreta de Walter Mitty (Ben Stiller, 2013) ou certos aspectos dos filmes de Mike Mills, como o recurso a sequências de documentário, embora usados sempre de modo mais preguiçoso e menos orgânico do que nos filmes deste realizador. Do ponto de vista estético, Onde Estás, Bernadette? deixa a desejar. Distrai um pouco, no entanto, e podemos sempre tentar imaginar como este material de partida poderia ter sido usado para fazer um bom filme.