Embora continuando ansiosamente à espera de tempos menos loucos para quem gosta de ir ao cinema, o Cinéfilo Preguiçoso tem estado atento aos filmes que vão passando na televisão. Tinha lido uns comentários interessantes sobre Sibyl, a terceira longa-metragem de ficção da realizadora francesa Justine Triet (2019), por isso aproveitou para ver este filme quando passou num dos canais de cinema de uma operadora de telecomunicações. Em Sibyl acompanhamos a história de uma psicanalista (Virginie Efira) que, dez anos depois de abandonar uma carreira de sucesso enquanto escritora, decide voltar a escrever. Por si só, este ponto de partida daria pano para mangas, mas é sobrecarregado não só por flashbacks do passado da protagonista, que inclui alcoolismo e um desgosto amoroso, mas também pelas suas relações problemáticas com a mãe, a irmã, as duas filhas, o companheiro actual e alguns pacientes. Como se isto não bastasse, há também uma identificação dúbia entre a psicanalista e uma paciente que é actriz e que a convence a viajar para Stromboli para colaborar num filme. Sibyl tenta ser um filme sobre: as complexidades da psicanálise e das relações entre mãe e filhos e psicanalista e pacientes; os paralelos entre ser escritora, psicanalista e realizadora; a tragicomédia da realização de um filme; e as desventuras do meio editorial. A partir desta descrição, facilmente se conclui que, apesar de o espectador nunca se aborrecer com Sibyl, seria possível fazer várias longas-metragens melhores com uma só destas ideias de base. Em certos aspectos, nomeadamente na oscilação entre o drama e a comédia e na maneira como a escrita e a vida se alimentam mutuamente, Sibyl lembra o cinema de François Ozon, mas sem nunca encontrar um tom unificador capaz de equilibrar as suas diferentes dimensões. Outro filme visto esta semana na televisão foi About Last Night (Edward Zwick, 1986), essa referência mítica das revistas para adolescentes dos anos oitenta. Mesmo sem nunca o ter visto, o Cinéfilo Preguiçoso sabia bem que o filme é protagonizado por duas figuras importantes do chamado Brat Pack – Rob Lowe e Demi Moore em início de carreira –, mas não suspeitava que se baseava numa peça de 1974 do grande David Mamet, intitulada Sexual Perversity in Chicago. Apesar de ser um péssimo filme, que pouco deve ter guardado da peça de Mamet, About Last Night tem tantas características típicas dos anos oitenta, sobretudo a estética do videoclip, que acaba por ter alguma piada vê-lo. Esperemos que algum canal de televisão se lembre de passar St. Elmo’s Fire (Joel Schumacher, 1985) em breve.