St. Elmo’s Fire/O Primeiro Ano do Resto das Nossas Vidas (Joel Schumacher, 1985), visto em DVD, pode ser relacionado com os filmes The Breakfast Club (John Hughes, 1985) e Os Amigos de Alex/The Big Chill (Lawrence Kasdan, 1983). Todos três contam a história de um grupo de amigos: em The Breakfast Club temos um grupo de adolescentes no liceu; em St. Elmo’s Fire, os protagonistas saíram há um ano da Universidade de Georgetown, em Washington, e estão entre a adolescência e o início da idade adulta; as personagens de Os Amigos de Alex reencontram-se quinze anos depois do fim do curso. Nos três filmes, temos personagens muito diferentes entre si que durante algum tempo pensam que são parecidas e se confundem, para depois se separarem e distinguirem. Entre estes três títulos, talvez St. Elmo’s Fire seja aquele que mais reflecte o espírito do seu tempo: os anos da presidência de Ronald Reagan (1981-1989). Este filme, reunindo um elenco de jovens actores que depois teriam carreiras interessantes (Emilio Estevez, Rob Lowe, Andrew McCarthy, Demi Moore, Judd Nelson, Ally Sheedy, Andie MacDowell e Mare Winningham), foi muito criticado pelo facto de ter personagens imaturas, egoístas, frívolas e desprezíveis. É verdade que, trinta e seis anos depois de estrear, as personagens parecem ter vidas bem menos complicadas do que as que agora temos. Contudo, apesar de cultivar uma certa estética da superficialidade típica dos anos oitenta, St. Elmo’s Fire retrata sem hipocrisias uma fase da vida que se caracteriza pela indecisão e pela hesitação e, às vezes, também por algumas experiências totalmente fúteis. Além disso, explora de modo interessante as complicações da amizade. As relações entre as personagens de St. Elmo’s Fire são mais sofisticadas do que parecem, muitas vezes misturando o amor e a amizade: de certa forma, os protagonistas estão todos apaixonados uns pelos outros. Tímidos ou extrovertidos, conservadores ou artistas, cada um deles tem de descobrir quem é fora do grupo a que pertence. Para algumas personagens, isso implica separarem-se dos amigos de quem foram próximos durante tanto tempo, e perceberem que na verdade não querem aquilo que pensavam querer, nem são quem pensavam ser. Há personagens que pensam que querem casar-se, mas não conseguem ser fiéis ao parceiro, personagens casadas que decidem separar-se, democratas que afinal são republicanos, personagens com pais ricos que preferem ser independentes, amigos apaixonados pela mesma mulher, etc. (Em Os Amigos de Alex, pelo contrário, as personagens há muito perceberam que são diferentes, mas parecem chegar a uma base de entendimento ténue com aqueles de que entretanto se afastaram.) Entre The Breakfast Club, Os Amigos de Alex e St. Elmo’s Fire, talvez o terceiro seja o mais datado e menos interessante, mas funciona pelo menos como curiosidade histórica e como retrato da amizade no início da idade adulta, com momentos cativantes em quantidade suficiente para merecer mais do que a reputação sofrível que arrasta. Quem se interessa por música dos anos oitenta talvez continue a ouvir a canção de John Parr com o mesmo título do filme. Reza a história que John Parr, em pleno bloqueio criativo, só conseguiu compor alguma coisa quando, pondo de lado o filme, se inspirou na história de um atleta canadiano chamado Rick Hansen que, de cadeira de rodas, na altura fazia uma digressão de sensibilização para as lesões da medula espinhal intitulada “Man in Motion Tour”.