Da «trilogia de Oslo», de Joachim Trier, realizador norueguês de origem dinamarquesa, o Cinéfilo Preguiçoso já tinha visto A Pior Pessoa do Mundo (2021) e Oslo, 31 de Agosto (2011). Esta semana, viu finalmente Reprise (2006), disponível no Mubi. Como os outros dois títulos da trilogia, Reprise, realizado por Trier aos trinta e dois anos, acompanha personagens jovens com dificuldades na transição para a vida adulta. Os protagonistas são Erik (Espen Klouman Høiner) e Phillip (Anders Danielsen Lie), dois rapazes com vinte e poucos anos que querem ser escritores. A partir do momento em que os dois vão enviar pelo correio os originais que escreveram, o filme cria um pequeno filme inicial alternativo, com uma narrativa idealizada sobre como as coisas poderiam ter acontecido. Depois do genérico, no entanto, a narrativa principal acompanha as dificuldades dos protagonistas no meio literário e na vida. Um dos livros é rejeitado, o outro é aceite e alcança algum sucesso, mas o autor tem de lidar com uma doença mental, exacerbada por um envolvimento amoroso repentino. Alguém já disse que Reprise parece um filme realizado pelos seus próprios protagonistas. Sem dúvida, sofre de excesso de energia, de excesso de referências cinéfilas e de excesso de ideias sobre a amizade, a identidade individual, o amor e o sofrimento associado à arte. Indecisa entre tantas correntes, a voz-off alterna entre o presente, o passado e o futuro, imaginando histórias alternativas fantasistas, mas sem explorar a narrativa principal com a consistência e a profundidade desejáveis. Entre as referências cinéfilas, a relação entre o grupo de amigos recorda a de Os Inúteis (Fellini, 1953), há uns laivos de Chungking Express (Wong Kar-Wai, 1994), nomeadamente na obsessão de um dos protagonistas com a contagem decrescente, mas a influência principal, nem sempre bem digerida, é a Nouvelle Vague, no conceito de «amor louco», na relação entre os protagonistas, na repetição da música «Camille» de Georges Delerue (da banda sonora de O Desprezo, de Godard), e também no modo como as referências literárias e cinematográficas são indissociáveis da vida dos personagens. A sátira ao meio literário capta bem não só os ideais de juventude, a superficialidade editorial, as relações entre escritores, os lugares-comuns da recepção e promoção dos livros, mas também a dificuldade de se escrever neste contexto. O visionamento desta trilogia em ordem cronológica inversa não foi propositado, mas permitiu constatar que Reprise contém em germe os dois filmes mais tardios, embora possua interesse por si só. Dir-se-ia até que Oslo, 31 de Agosto é uma espécie de remake mais sóbrio deste primeiro filme, na medida em que recupera tanto o actor Anders Danielsen Lie, num papel bastante semelhante, como os temas da doença mental e da relação entre amigos, para os explorar mais a fundo, levando-os mais a sério. Quanto à obra de Joachim Trier, quase vinte anos depois de Reprise, à semelhança do que se passa com as suas personagens, parece ainda não ter encontrado um equilíbrio satisfatório entre, por um lado, a vertente mais sombria e problemática da existência humana e, por outro, a energia transbordante que está no seu reverso.