Os filmes que descrevem uma relação nostálgica com o cinema nunca deixaram de estar na moda. Império da Luz (2022), disponível nos videoclubes das operadoras de telecomunicações, é o contributo de Sam Mendes para este subgénero. Nos anos oitenta, Hilary (Olivia Colman), a protagonista, trabalha num cinema de Margate, no Sul de Inglaterra. O seu passado não é revelado integralmente, mas percebemos que ela não é feliz e que é psicologicamente instável, tendo já passado por um episódio de internamento. A acção do filme assenta nos acontecimentos associados à chegada de um novo funcionário (Micheal Ward) e ao envolvimento romântico entre este e Hilary. Império da Luz é um filme autobiográfico na medida em que a protagonista foi inspirada pela mãe do realizador, mas Mendes, que também é o argumentista, não o deixa resvalar para o sentimentalismo e consegue manter um distanciamento salutar. Enquanto espectadores do século XXI, sabemos que aquele cinema, pelas suas dimensões, já está em declínio e dificilmente resistirá ao tempo. Aliás, numa das cenas mais belas do filme, vemos que, mesmo naquela época, duas das quatro salas originais do edifício estão fechadas e abandonadas, entregues aos pombos. O apelo à nostalgia pelos tempos idos está ausente, e esse é um ponto a favor. O principal problema de Império da Luz é a falta de ousadia. Todas as linhas narrativas parecem desenhadas para convidar o espectador a concordar, a sentir-se confortavelmente solidário com as personagens e a indignar-se – contra os skinheads, contra a discriminação racial e contra os preconceitos de que são alvo as relações amorosas intergeracionais. Sem esse apelo à unanimidade e aos bons sentimentos, o que resta? Pouca coisa, reconheça-se. A realização é convencional, a maioria das cenas são bastante forçadas e o desfecho é previsível. Lamenta-se ainda o desperdício de dois excelentes actores como são Toby Jones e Colin Firth: enquanto o primeiro ainda tem algum espaço para mostrar o seu talento, o papel de Firth, no papel de um gerente da sala de cinema abusivo e cobarde, é francamente caricatural. No fim, o projeccionista (Jones) tem finalmente oportunidade de mostrar um filme a Hilary, que até aí se recusara a sentar-se na plateia. É curioso e irónico que o filme escolhido seja Being There (1979), de Hal Ashby, já que evoca inevitavelmente Harold and Maude (1971), uma obra do mesmo realizador que também explora uma relação entre um jovem e uma mulher mais velha, mas cuja originalidade e coragem nada têm que ver com o convencionalismo frouxo e a brandura de Império da Luz. Apesar de tudo, é de assinalar que este filme parece indicar vontade, por parte de Mendes, de adoptar um registo mais intimista e menos grandiloquente, depois de dois James Bond e de um filme de guerra. Não deixa de ser louvável, mas espera-se que esforços futuros nessa linha sejam acompanhados por mais pujança criativa e menos previsibilidade.
Outros filmes recentes inspirados pela nostalgia do cinema: Babylon (Damien Chazelle, 2022); Os Fabelmans (Steven Spielberg, 2022).