Ainda no Filmin, o Cinéfilo Preguiçoso viu Oslo, 31 de Agosto (2011), segunda longa-metragem de Joachim Trier, realizador norueguês que recentemente obteve um grande sucesso e reconhecimento crítico pelo filme A Pior Pessoa do Mundo (2021). Oslo, 31 de Agosto baseia-se no romance Le Feu Follet, de Drieu La Rochelle, que já tinha sido adaptado para o cinema por Louis Malle em 1963. A acção desenrola-se durante algumas horas da vida de Anders, um ex-toxicodependente na casa dos trinta anos que desfruta de uma licença para sair do centro de reabilitação onde vive. Anders visita alguns amigos em Oslo, vai a uma entrevista de emprego sem grande convicção, tenta telefonar a uma antiga namorada e acaba a noite numa festa em que quebra a sua abstinência alcoólica. Ao longo de todo o filme, há um contraste entre a componente social, feita de encontros mais ou menos embaraçosos, conversas e partilha de desabafos, e a angústia e o desânimo profundo que Anders sente e que só ocasionalmente vêm à superfície. A sociedade funciona à base de linguagem e códigos comuns; aquilo que é alheio a essa linguagem e que é do foro da experiência íntima existe como que num mundo paralelo. Trier consegue mostrar essa clivagem com notável sobriedade e inteligência, também graças à magnífica interpretação de Anders Danielsen Lie, presença habitual nos filmes deste cineasta. Oslo, 31 de Agosto perde alguma força quando passa das deambulações diurnas para as cenas na festa, na discoteca e, na madrugada seguinte, numa piscina que será encerrada no fim do Verão. Sucedem-se alguns lugares-comuns típicos dos filmes que mostram personagens em espirais destrutivas, com ou sem uma promessa de redenção ao virar da esquina. Contudo, mesmo esses lugares-comuns acabam por ter, de forma deliberada ou involuntária, uma função: demonstram que nem sempre um banho de piscina ao romper do dia simboliza um renascimento; nem sempre o cinema salva. Em face da abundância de filmes com mensagens de esperança que soam a falso, ou que se autodescrevem como “hinos à vida”, são de assinalar a honestidade e os escrúpulos morais com que Trier nos propõe um filme cuja única mensagem parece ser: a sociedade tem as suas leis, o tempo passa e às vezes as pessoas sofrem. Embora menos complexo, na aparência, do que A Pior Pessoa do Mundo, que completou a “trilogia de Oslo” de que Oslo, 31 de Agosto é a segunda parte, acaba por ser mais satisfatório do que este terceiro filme. O percurso de vida de Julie, errático e volátil, é menos interessante do que o retrato instantâneo de Anders, que se limita a enfrentar as repercussões práticas ou morais de decisões que tomou no passado, preferindo abster-se de qualquer decisão no presente. Não se pode inferir muito sobre a trajectória artística deste realizador apenas com base em dois filmes. Por isso, o Cinéfilo Preguiçoso vai tentar ver a primeira obra desta trilogia, Reprise (2006).