6 de abril de 2015

Na morte de Manoel de Oliveira


Nos anos 80 e 90, Manoel de Oliveira era amiúde remetido para a categoria de realizador para as elites intelectuais e acusado de fazer filmes impenetráveis pela perspicácia do cidadão comum. Passadas duas ou três décadas, superadas todas as expectativas de longevidade e de reconhecimento internacional, as reacções à morte deste realizador insistem de forma surpreendente na sua faceta mais ligeira: repetem-se em círculo as anedotas ligadas à boémia dos anos 20 e ao salto com vara ou as momices chaplinescas. Talvez a vontade de privilegiar esta imagem mais superficial e clownesca surja como reacção às pulsões hagiográficas que se manifestaram e continuarão a manifestar (ah, o Panteão!), mas não há desculpa para remeter para segundo plano a extraordinária dimensão e complexidade artística da obra de Oliveira. A melhor homenagem é ver e rever os filmes. Para isso seria importante que estes estivessem mais acessíveis, ou em sala ou em DVDs a preços aceitáveis.