As razões que levaram Paul Thomas Anderson a adaptar um romance menor de Thomas Pynchon são difíceis de penetrar. Pode-se conjecturar que, depois de tratar personagens maiores que a vida em There Will Be Blood (2007) e no magnífico The Master (2012), o realizador e argumentista se sentiu atraído pela abundância de personagens insignificantes em Inherent Vice (2014), à cabeça dos quais surge o protagonista, “Doc” Sportello. O filme reconstitui fielmente o ambiente de ressaca psicadélica da América de 1970, a incoerência do enredo e o ambiente de paranóia tipicamente pynchoniano, sem nunca acrescentar ao livro algo de verdadeiramente ousado ou distintivo. O facto de a incoerência e inverosimilhança serem completamente deliberadas não redime este esforço de Anderson, que dificilmente ficará para a História como um ponto alto da sua carreira. Procurem-se antes os pontos positivos na interpretação de Joaquin Phoenix, numa ou noutra cena hilariante como a devolução dos pacotes de droga aos membros do cartel («How long have you been working for the Golden Fang?») ou na escolha de Joanna Newsom como narradora.
23 de fevereiro de 2015
Inherent Vice
As razões que levaram Paul Thomas Anderson a adaptar um romance menor de Thomas Pynchon são difíceis de penetrar. Pode-se conjecturar que, depois de tratar personagens maiores que a vida em There Will Be Blood (2007) e no magnífico The Master (2012), o realizador e argumentista se sentiu atraído pela abundância de personagens insignificantes em Inherent Vice (2014), à cabeça dos quais surge o protagonista, “Doc” Sportello. O filme reconstitui fielmente o ambiente de ressaca psicadélica da América de 1970, a incoerência do enredo e o ambiente de paranóia tipicamente pynchoniano, sem nunca acrescentar ao livro algo de verdadeiramente ousado ou distintivo. O facto de a incoerência e inverosimilhança serem completamente deliberadas não redime este esforço de Anderson, que dificilmente ficará para a História como um ponto alto da sua carreira. Procurem-se antes os pontos positivos na interpretação de Joaquin Phoenix, numa ou noutra cena hilariante como a devolução dos pacotes de droga aos membros do cartel («How long have you been working for the Golden Fang?») ou na escolha de Joanna Newsom como narradora.
16 de fevereiro de 2015
The Future
Miranda
July, de quem se tem falado muito ultimamente a propósito da publicação do seu
primeiro romance (The First Bad Man), é daqueles raros casos de talento que
se estende à literatura, à performance, à realização, à interpretação e à
música com doses comparáveis de dedicação e apreciação crítica. Aproveitando
mais uma semana de vacas magras no que respeita a estreias, o Cinéfilo
Preguiçoso viu em DVD The Future (2011), a segunda longa-metragem desta
artista. Neste filme, protagonizado pela própria realizadora e por Hamish
Linklater, o medo do futuro é explorado em níveis muito diversos que coexistem
sem se contaminar: o metafórico, o literal, o lúdico e o trivial combinam-se
para exprimir as inquietações e interrogações de um casal suscitadas pela
decisão, aparentemente banal, de adoptar um gato (cuja voz antropomorfizada
pontua de forma tocante e cómica todo o filme). Alguns elementos que vão talvez
longe de mais na escala da gratuitidade não comprometem uma obra poderosa e
inteligente. Na sua falsa ingenuidade, The Future suscita a reflexão na mesma
medida em que tantos filmes supostamente com mensagem nos deixam indiferentes.
9 de fevereiro de 2015
Topsy-Turvy
(O
Cinéfilo Preguiçoso agradece ao inventor do DVD o rasgo de génio que permitiu a
tantos cinéfilos desfrutarem do cinema em casa nos fins-de-semana frios de Inverno.)
Ao contrário do que acontece no recente Mr Turner (2014), em Topsy-Turvy (1999)
Mike Leigh explora o processo colectivo de criação (neste caso, a ópera The Mikado
de Gilbert e Sullivan, estreada em 1885) em vez do esforço de um único
indivíduo. Fazendo lembrar obras como La Nuit Américaine (François Truffaut,
1973) ou State and Main (David Mamet, 2000), o filme desloca o seu foco de
personagem para personagem ao sabor dos caprichos e conflitos entre estas. Além
das componentes técnicas (óscares para guarda-roupa e maquilhagem),
previsivelmente irrepreensíveis, Topsy-Turvy vale em grande medida pela
maneira como gere o fluxo de diálogos, ensaios, choques de personalidades e
números musicais, deixando sempre espaço para momentos de revelação de
dimensões e profundidades inesperadas das personagens.
2 de fevereiro de 2015
The Theory of Everything
Numa das obras anteriores do realizador James Marsh (Man on Wire, 2008), documentário sobre o funâmbulo francês Philippe Petit, o longo trabalho de preparação de um acto criativo (a caminhada sobre um cabo suspenso entre as Torres Gémeas do World Trade Center) é mostrado com uma mistura fascinante de rigor e lirismo. Em The Theory of Everything (2014), muito pelo contrário, os processos de investigação e de criação são ignorados em benefício de um tratamento sentimental e superficial da vida do físico Stephen Hawking. Sendo o filme uniformemente convencional e carente de interesse, justifica-se destacar a odiosa montagem paralela entre o colapso de Hawking na ópera e a infidelidade cometida pela mulher com o professor de música. O facto de The Theory of Everything ter sido nomeado para o Óscar de Melhor Filme diz muito pouco sobre o filme, mas muito sobre os Óscares.
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