Em O Jogo da Imitação (Morten Tyldum,
2014), o contexto parece invadir o filme e expulsar tudo o resto. A segunda
guerra mundial, as leis contra a homossexualidade e a batalha contra o tempo
para decifrar as mensagens criptografadas do estado-maior nazi deixam pouco
espaço para o desenvolvimento da singularíssima personagem de Alan Turing.
Consegue salvar-se, vá lá saber-se como, a interpretação de Benedict
Cumberbatch que, apesar de ter de representar uma personalidade semelhante à de
Sherlock Holmes, consegue compor uma personagem que se distingue. Em Debaixo
da Pele (Jonathan Glazer, 2013, visto pelo Cinéfilo Preguiçoso em DVD), pelo
contrário, a ausência absoluta de contexto é parte do contrato que o realizador
tenta estabelecer com o espectador, com ou sem sucesso. Ninguém sabe de onde
vem Laura (Scarlett Johansson), ou o que a leva a interpelar e seduzir homens solitários nas terras frias da Escócia.
Nem parece importante sabê-lo.
26 de janeiro de 2015
19 de janeiro de 2015
Sono de Inverno
Embora
esteja bem ciente de que o mundo em que vive é um mundo injusto, o Cinéfilo
Preguiçoso não pôde evitar o espanto ao constatar que Sono de Inverno (2014), de Nuri Bilge Ceylan, ganhou a Palma de
Ouro no Festival de Cannes, ao passo que o infinitamente mais rico e complexo Era Uma Vez na Anatólia (2011) se ficou
pelo Grande Prémio do Júri. Não é na duração (mais de três horas) nem no ritmo
lentíssimo, coisas que não assustam o Cinéfilo Preguiçoso, que residem os
problemas de Sono de Inverno; os
aspectos mais irritantes são a insistência em sondar as profundezas
psicológicas de personagens sem densidade e a ambição falhada de emular Bergman
nas cenas de discussão do casal. O número surpreendente de pessoas que
aguardavam no Nimas para assistir à sessão das 17h00 num sábado de chuva sugere
que esta opinião é minoritária e que a obra de Ceylan está a fazer furor nos
meios cinéfilos, nas redes sociais e noutros locais onde se faz e desfaz a
sorte de um filme.
12 de janeiro de 2015
Adeus à Linguagem
Godard em
3D!!! E eis que o Cinéfilo Preguiçoso se vê compelido a vasculhar as gavetas da
cómoda em busca dos óculos que usou para ver Pina, de Wim Wenders (2011). Adieu
au Langage é um filme denso, exasperante e genial como qualquer outro que
Godard tenha realizado desde que Jean-Paul Belmondo resmoneou «Allez vous faire
foutre!» ao volante de um carro roubado – mas diferente de qualquer outro e
radicalmente singular, como é próprio de alguém que sempre se soube pioneiro e
que sabe que não deixará seguidores. (Vale a pena falar da extraordinária
beleza plástica do filme – e de como esta vertente tem sido negligenciada nas
análises à obra de JLG?) Em vez dos 70 minutos anunciados, fica-se sem a
certeza de que a projecção tenha terminado, a julgar pela maneira como certas
imagens e frases perduram: «Moi je suis là pour autre chose. Je suis là
pour vous dire non et pour mourir. Pour
vous dire non et pour mourir.»
5 de janeiro de 2015
Mr. Turner
O tema de Mr. Turner (2014), realizado por Mike Leigh, é menos a pulsão criadora e o génio do
que um homem (por acaso genial) e a sociedade em que este se movia, neste
caso a Londres da primeira metade do século XIX. A reconstituição histórica é
excelente, a direcção artística é notável, os diálogos são fluidos, o humor é
abundante. O principal mérito do filme, no entanto, é retratar um Joseph
Turner imensamente humano, complexo e singular, mas ao mesmo tempo tão fruto da
sua época e do seu meio como qualquer outro dos seus contemporâneos. Os méritos de
Timothy Spall no papel principal já foram devidamente elogiados, mas não seria
decente deixar de chamar a atenção para os desempenhos de Marion Bailey, Paul
Jesson e Martin Savage. Fortemente recomendado.
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