29 de junho de 2015
Um Pombo Pousou Num Ramo a Reflectir na Existência
22 de junho de 2015
The Royal Tenenbaums
The Royal Tenenbaums (2001,
visto pelo Cinéfilo Preguiçoso em DVD em dia de grande canícula) foi a terceira
longa-metragem realizada por Wes Anderson. O estilo deste autor estava já
perfeitamente consolidado: planos cuidados até ao mínimo pormenor visual, humor
melancolicamente absurdo, espaços geográficos alheios a qualquer lugar real, mas
dotados de uma intensa coerência interna, personagens caracterizadas
essencialmente por aquilo que têm de excêntrico. O filme conta a história da
família Tenenbaum, cujos filhos, criados para serem prodígios, entram em crise
e perdem o rumo quando chegam à idade adulta. Tal como nas restantes obras de
Anderson, os momentos mais conseguidos deste filme desconcertante mas sedutor
(ao seu modo muito próprio) são aqueles em que as personagens desafiam a sua
caracterização tipificada e ousam assumir-se como pessoas, carentes de sentido
ou simplesmente de carinho: falamos, por exemplo, da tentativa do patriarca
(Gene Hackman, excelente como sempre) de se reconciliar com a família ou da
aproximação entre Margot (Gwyneth Paltrow) e o irmão adoptivo (Luke Wilson). Em retrospectiva, é curioso reconhecer
pequenos detalhes que antecipam temas e ideias explorados mais tarde pelo
realizador, como a peça cujas personagens são todas animais (Moonrise
Kingdom, 2012) ou o ambiente de hotel grandioso e decadente (The Grand
Budapest Hotel, 2014).
15 de junho de 2015
Enquanto Somos Jovens
Se por
acaso nos acontecesse ver o filme Enquanto Somos Jovens (2014) sem sabermos quem era
o realizador, não seria muito difícil adivinhar o nome: Noah Baumbach (n. 1969).
Esta facilidade de identificação deve-se a certos traços distintivos dos filmes
deste realizador, como a atenção ao espaço urbano e a exploração exaustiva de
alguns temas: o fracasso, o problema da autenticidade e as dificuldades da
autopromoção. Outra característica importante do cinema de Baumbach é o talento
para explorar as dimensões mais negativas e mesquinhas das personagens sem
deixar que isso afecte a compaixão com que as filma. Em Enquanto Somos Jovens
encontramos explicitamente todas estas questões, girando em torno do contraste entre a
meia-idade e a juventude. Este contraste é encenado através da relação entre os
dois casais principais, interpretados magistralmente por Ben Stiller e Naomi
Watts, do lado da meia-idade, e por Adam Driver e Amanda Seyfried do lado da
juventude – os mais velhos com uma existência quase virtual, os mais novos
ostentando um interesse por actividades práticas e artesanais que às vezes não
passa de pose. Do ponto de vista da distribuição, este filme tem sido tratado
como um produto mais mainstream do que a restante obra do realizador, mas só se
pode dizer que este é o seu filme mais comercial porque a obra de Baumbach,
permanecendo sempre fiel a si mesma, já atingiu um estatuto em que ela própria
dita as regras do que pode interessar ao grande público. Um espectador da
geração de Baumbach revê-se imediatamente nos gestos, nos hábitos, nos
conflitos e nas preocupações das suas personagens; os restantes dificilmente
deixarão de empatizar com o que há de universal e eterno no medo de envelhecer
e na procura da felicidade e do equilíbrio.
8 de junho de 2015
Gaslight
Gaslight
(visto em DVD, já que nada em sala parecia ter interesse) é um filme de 1944,
realizado por George Cukor. A personagem principal, Paula, interpretada por
Ingrid Bergman (num papel que lhe valeu o primeiro de três óscares), vive
assombrada pelo assassinato da tia que ocorreu numa casa situada numa praça
pacata de Londres. Quando Paula parece a caminho de refazer a vida, o casamento
e o regresso subsequente à casa da tia trazem de volta terrores antigos
associados ao homicídio, que ficou por esclarecer. O marido (Charles Boyer)
tenta persuadi-la de que está a perder o juízo e ameaça interná-la; em
paralelo, entrega-se a actividades misteriosas que o filme dá generosamente a
entender estarem relacionadas com o crime. A comparação com filmes aproximadamente
contemporâneos que também exploram o tema da duplicidade do marido (por exemplo
Suspicion, de Hitchcock, ou Secret Beyond the Door, de Lang) não é muito
favorável a Gaslight, em termos de complexidade e subtileza. Contudo, não
faltam pontos de interesse, em particular a maneira como o regresso de Paula e
a sua alienação são encenados como um processo de descoberta do próprio
passado, cujo culminar lhe permite por fim iniciar a sua própria vida. O filme
vale ainda pela tortura psicológica que Paula inflige ao marido no confronto
final e pela maneira como deixa brilhar em papéis secundários duas grandes
actrizes, respectivamente em fim e início de carreira: May Whitty e Angela
Lansbury.
1 de junho de 2015
National Gallery
Nos
planos finais do filme O Grande Museu (real. Johannes Holzhausen, 2014) eram focados diferentes
pormenores de uma das telas em que Bruegel representou a Torre de Babel,
exposta no Museu de História da Arte de Viena. Em National Gallery (2014), Frederick
Wiseman também trabalha esta visão de museu como um edifício em permanente
construção e desconstrução, onde toda a gente fala linguagens diferentes sem
chegar a um consenso estável. Contudo, enquanto The Great Museum abordava exclusivamente
o museu vienense, o filme de Wiseman, fascinado pela diversidade dos discursos
e comportamentos dos funcionários do museu londrino, desencadeia uma reflexão
sobre arte que ultrapassa a questão dos limites físicos e circunstanciais do
espaço museológico. Contrastando momentos de visitas guiadas, de aulas, de
reuniões da direcção, de um espectáculo de dança inspirado por uma exposição
dedicada a Ticiano e de discussões sobre assuntos tão diferentes como restauro,
propriedades físicas das obras de arte e acções de marketing, Wiseman mostra
que não há realmente oposição entre interpretações subjectivas e interpretações
supostamente objectivas tanto das obras de arte como da própria instituição do
museu. Em relação a este tema, destacam-se dois momentos. Num deles, um
especialista explica que, ainda que o restauro se apoie em estudos exaustivos
dos objectos, restaurar uma obra nunca pode ser simplesmente reconstituir o seu
estado original; este processo exige uma reinterpretação da obra de arte
tomando em consideração o contexto em que esta passará a integrar-se e não só o
seu passado. Noutro momento, durante uma conversa sobre uma tela de Vermeer,
uma historiadora afirma que o importante nas obras de arte é a capacidade destas
de reterem a nossa atenção sempre que nos aconteça observá-las, muitas vezes
por motivos que os ensaístas que escreveram sobre ela não previram (a hora do dia, a pessoa com quem se
está, um pormenor, uma tonalidade, um gesto, uma acção). Deste modo, Wiseman demonstra que, mesmo num museu, a arte faz parte da vida.
Subscrever:
Mensagens (Atom)