Visto num canal de televisão de uma operadora de telecomunicações, O Nosso Tempo (2018), de Carlos Reygadas, é mais um filme sobre crises conjugais. Tendo em conta que se trata de um tópico tão abordado no cinema, às vezes em bons filmes, como Viagem em Itália (1954) de Rossellini, ou Cenas da Vida Conjugal (1973) de Ingmar Bergman, seria de esperar que os realizadores pensassem duas vezes antes de lançarem para o mundo mais longas-metragens assentes em diálogos mal escritos que quase se resumem a discussões intermináveis. É possível que Reygadas tenha achado que podia salvar o filme da banalidade situando a acção num rancho, filmando paisagens bonitas, cultivando um ritmo lento, colocando a câmara em ângulos inesperados, abusando do hors-champ, explorando umas metáforas relacionadas com touros, cavalos e masculinidades problemáticas, e assumindo o papel principal com Natalia López, sua mulher, para assim reforçar a dimensão voyeurista do enredo baseado num triângulo amoroso de uma suposta relação aberta. Não foi isso que aconteceu. Em particular, a opção de Reygadas de (pela primeira vez na sua carreira) passar para o outro lado da câmara tem resultados desastrosos: falta-lhe o talento de actor de Buster Keaton ou Woody Allen e carece da presença e do carisma necessários para construir uma persona que compense a escassez de dotes dramáticos, ao contrário do que acontece, por exemplo, com Nanni Moretti. Às vezes, um realizador que seguimos com algum interesse, mas que ainda não nos convenceu plenamente, faz um filme que lança uma luz desfavorável sobre toda a sua obra anterior. O Nosso Tempo é um desses filmes em que compreendemos que tudo aquilo que antes achávamos interessante na obra do seu realizador afinal era pretensioso, gratuito, superficial e infantilóide. Enquanto a memória de alguns momentos deste filme (discussões sobre telemóveis, lutas de touros, delírios egocêntricos do protagonista) se mantiver bem viva, será difícil o Cinéfilo Preguiçoso voltar a ver um filme de Reygadas. Como O Nosso Tempo dura três horas, os maus momentos são não só penosos mas também numerosos, pelo que não serão fáceis de esquecer.