Um Pombo Pousou Num Ramo a Reflectir na Existência
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Roy
Andersson vê a existência humana como uma tragédia, mas filma-a como uma
comédia, ou o contrário? De qualquer modo, há algures um mal-entendido. Se o
Cinéfilo Preguiçoso se sentisse mais próximo do sentido de humor
baseado na incompreensão, no distanciamento, na falta de empatia e na ideia de
que a humanidade é composta por figuras grotescas e ridículas vistas à pressa
num Museu de História Natural porque alguém impaciente está à nossa espera para
coisas mais práticas, talvez tivesse apreciado mais Um Pombo Pousou Num Ramo a
Reflectir na Existência. Ainda assim, é preciso reconhecer que certos
elementos deste filme, galardoado com o Leão de Ouro no Festival de Veneza de
2014, resultam bem, com destaque para as personagens dos vendedores de artigos
de diversão deprimidos, a falta de convicção de um dos intervenientes numa aula
de flamenco e uma conversa sobre dias da semana que já todos tivemos. Em certo
ponto do filme, depois de ter uma visão horrífica relacionada com o sacrifício
de escravos numa construção metálica que evoca um instrumento musical, um dos
vendedores interroga-se kantianamente em voz alta num corredor: ‘Será correcto
usar outros seres humanos apenas para gratificação do nosso prazer?’ O porteiro
do prédio responde-lhe sem hesitar: ‘Achas mesmo que esta é a altura adequada
para estares a pensar sobre isso? Amanhã há pessoas que têm de se levantar
cedo.’ Quem apreciar o minimalismo macabro de Andersson poderá aproveitar para
ver ou rever os dois primeiros filmes da trilogia que esta obra encerra:
Canções do Segundo Andar e Tu Que Vives, ambos em exibição no Monumental
(Lisboa) e no Teatro Municipal do Campo Alegre (Porto).