14 de setembro de 2015

The Day He Arrives


Num dos numerosos diálogos que se ouvem em The Day He Arrives, realizado por Hong Sang-Soo (2011), uma personagem argumenta que as coincidências não possuem qualquer significado além daquele que lhes é atribuído por quem as vive. O próprio filme parece uma ilustração desta ideia: sucedem-se os encontros acidentais entre a personagem principal (um realizador de cinema de visita a Seul, de onde saiu para ir dar aulas para a província) e amigos, conhecidos ou admiradores. As mesmas situações repetem-se sem que fique claro se se trata de um artifício formal ou se estas personagens repetem gestos e frases dia após dia e noite após noite, incapazes de formar as memórias de curto prazo que lhes permitiriam perceber que se estão a repetir. A impressão é a de uma cronologia difusa e de um tempo cíclico em vez de linear; o protagonista parece estar entre duas relações, mas o “antes” e o “depois” da relação, assim como as próprias personagens femininas envolvidas, assemelham-se estranhamente. Hong Sang-Soo é um realizador sul-coreano que começa a ter o destaque que a sua obra, discreta e singular, há muito merecia. Os seus filmes, formalmente subtis, recorrem quase invariavelmente a uma matéria-prima ficcional bastante simples: personagens banais, totalmente incapazes de tomar uma resolução que as ajude a resolver os seus problemas (geralmente sentimentais). Espera-se que a atenção mediática suplementar devida à colaboração com uma estrela internacional (Isabelle Huppert, em In Another Country, de 2012) e o recente Leopardo de Ouro no Festival de Locarno (por Right Now, Wrong Then, de 2015) contribuam para que os seus filmes sejam vistos mais regularmente em Portugal.