Num dos
numerosos diálogos que se ouvem em The
Day He Arrives, realizado por Hong Sang-Soo (2011), uma personagem
argumenta que as coincidências não possuem qualquer significado além daquele
que lhes é atribuído por quem as vive. O próprio filme parece uma ilustração
desta ideia: sucedem-se os encontros acidentais entre a personagem principal
(um realizador de cinema de visita a Seul, de onde saiu para ir dar aulas para
a província) e amigos, conhecidos ou admiradores. As mesmas situações
repetem-se sem que fique claro se se trata de um artifício formal ou se estas
personagens repetem gestos e frases dia após dia e noite após noite, incapazes
de formar as memórias de curto prazo que lhes permitiriam perceber que se estão
a repetir. A impressão é a de uma cronologia difusa e de um tempo cíclico em
vez de linear; o protagonista parece estar entre duas relações, mas o “antes” e
o “depois” da relação, assim como as próprias personagens femininas envolvidas,
assemelham-se estranhamente. Hong Sang-Soo é um realizador sul-coreano que
começa a ter o destaque que a sua obra, discreta e singular, há muito merecia.
Os seus filmes, formalmente subtis, recorrem quase invariavelmente a uma
matéria-prima ficcional bastante simples: personagens banais, totalmente
incapazes de tomar uma resolução que as ajude a resolver os seus problemas
(geralmente sentimentais). Espera-se que a atenção mediática suplementar devida
à colaboração com uma estrela internacional (Isabelle Huppert, em In Another Country, de 2012) e o recente
Leopardo de Ouro no Festival de Locarno (por Right Now, Wrong Then, de 2015) contribuam para que os seus filmes
sejam vistos mais regularmente em Portugal.