10 de abril de 2016

Menina Else | La Ronde



Graças às sessões Double Bill, organizadas pela Cinemateca nas tardes de sábado, é possível assistir a dois filmes pelo preço de um só. A mais recente foi dedicada a duas adaptações para o cinema de peças de Arthur Schnitzler. Menina Else (1929), realizado por Paul Czinner, é um objecto curioso. Filme mudo (acompanhado ao piano, nesta sessão, por João Paulo Esteves da Silva), revela ainda alguma dependência dos códigos de representação da época, mas também um dinamismo e uma modernidade notáveis no tratamento de certas sequências. O ritmo lento e a dilatação inusitada do tempo da narrativa tornam-se ocasionalmente frustrantes, mas permitem uma percepção mais aprofundada sobre o percurso que a protagonista é forçada a fazer, da frivolidade para a decisão mais grave e repugnante da sua curta vida. Elisabeth Bergner, no papel de Else, mostra-se igualmente credível nas cenas mais dramáticas e nos pequenos gestos (descalçar as meias, despejar açúcar na concavidade de uma fatia de pão). Czinner é um dos muitos cineastas cuja carreira foi estropiada pela ascensão do nacional-socialismo; perante este filme, justifica-se que se lamente o esquecimento relativo em que caiu. La Ronde (1950), de Max Ophüls, oferece-nos uma dezena de vinhetas sobre o amor, com personagens que transitam de um episódio para o seguinte, num movimento que um narrador/mestre-de-cerimónias (Anton Walbrook) compara ao de um carrocel e que intersecta todos os estratos sociais, da prostituta ao conde. Embora a brevidade dos enredos nos afaste da riqueza humana de filmes posteriores de Ophüls, como Le Plaisir (1952), e ainda que o tom de sátira resvale por vezes para a condescendência, La Ronde é um filme engenhoso e sedutor na sua ligeireza e fugacidade plenamente assumidas. Ophüls mostra mais uma vez o seu talento para controlar elencos repletos de vedetas evitando desequilíbrios e explosões de egos. É impossível não salientar a fabulosa Danielle Darrieux, que voltaria a colaborar com o realizador em Le Plaisir e Madame De… (1953) e que se prepara para festejar o seu 99.º aniversário daqui a poucas semanas.