Visto em
DVD, Listen Up Philip (2014), a
terceira longa-metragem de Alex Ross Perry (n. 1984), gira em torno de um jovem
escritor (interpretado pelo excelente Jason Schwartzman) depois da publicação do
seu segundo romance. Narrado em voz-off, como uma ficção, pelo actor e escritor
Eric Bogosian, o filme acompanha igualmente as personagens que gravitam em
torno de Philip, nomeadamente Ike Zimmerman (Jonathan Pryce), um escritor mais
velho e já consagrado que decide apadrinhá-lo, a namorada Ashley (Elizabeth
Moss), o gato Gadzookey, adoptado por Ashley quando Philip decide deixar a
cidade por uns tempos, além de outras novas e antigas namoradas com quem Philip se
vai confrontando. Os modelos de escritor e de literatura explorados no filme
estão muito próximos dos de certos romancistas americanos do sexo masculino,
como Philip Roth ou algum Saul Bellow, com obras que se alimentam de maus
sentimentos em relação às mulheres, encaradas apenas como caixas de ressonância
para desabafos mais ou menos egocêntricos. Os movimentos de câmara e a
rarefacção da linearidade narrativa recordam o cinema de Cassavetes nos seus
primeiros tempos, mas quando o próprio Alex Ross Perry escreveu que Listen Up Philip é um filme sobre a
agressividade e as energias negativas da cidade de Nova Iorque, integrou-se
imediatamente numa família de realizadores de que fazem parte Woody Allen e
Noah Baumbach. Também Allen e Baumbach fazem filmes sobre Nova Iorque, sem
hesitarem em mostrar o lado mais mesquinho da cidade e das suas personagens. Em
comparação com estes dois realizadores, contudo, parecem faltar a Perry algum
sentido de humor e um certo distanciamento irónico. Para Perry, as
características mais importantes das personagens são as suas fraquezas,
raramente ou nunca compensadas por virtudes redentoras. Em contraste com os
filmes de Woody Allen e Noah Baumbach, que exploram um espectro de emoções e
circunstâncias mais complexo e mais amplo, Listen
Up Philip resulta essencialmente como um excelente instrumento de
exploração dos fracassos no amor, na amizade e na vida em geral. É um filme que
não oferece redenções nem resoluções satisfatórias, mas que, mau grado a sua
negatividade, deixa espaço para a capacidade de seguir em frente e superar o
medo da solidão.