Maggie Tem Um Plano, de Rebecca Miller (2015), possui muitas
características entediantes. O facto de se tratar de mais um filme situado em
Nova Iorque, sobre personagens que não se cansam de falar sobre as próprias
dificuldades e más relações, por si só, não é um problema. Há e continuará a
haver bons filmes com estes mesmos tópicos – mas distinguindo-se de Maggie Tem Um Plano por assentarem em
diálogos mais inteligentes e em dilemas que suscitam mais curiosidade. Por
exemplo, o filme Listen Up Philip
(sobre o qual escrevemos recentemente) situa-se na mesma cidade, incluindo
personagens equivalentes (escritores, académicos, criativos), mas é muito mais
interessante. E, contudo, participam no filme de Rebecca Miller – nascida em
1962, filha do dramaturgo Arthur Miller e casada com Daniel Day Lewis, já nossa
conhecida por ter realizado filmes como Velocidade
Pessoal (2002) ou A Balada de Jack e
Rose (2005) – actores excelentes
e carismáticos, desempenhando papéis que poderiam dar pano para mangas: uma
protagonista (Greta Gerwig) com uma dimensão maternal controladora que, depois
de tentar proteger em enredos consistentes todos os que a cercam, um pouco à
semelhança da Emma de Jane Austen, tem de se render ao «destino» ou «acaso»; um
casal de académicos da área da «antropologia fictocrítica» (sic) – John (Ethan Hawke) e Georgette (Julianne
Moore) – a braços com as dificuldades típicas tanto de um casamento longo como
da carreira em questão. Apesar de não serem propriamente medíocres, estas e
outras figuras nunca se destacam daquilo a que vulgarmente chamamos
«conversa de chacha», ao ponto de – proeza inesperada mas dispensável – não
haver qualquer química entre as personagens de Greta Gerwig e Ethan Hawke, pelo
simples facto de os diálogos e a maior parte das situações em que estão
envolvidos serem tão desengraçados e repisarem tantos lugares-comuns maçadores
que chegam a ser exasperantes. Felizmente, em contraste absoluto com Maggie Tem Um Plano no que diz respeito
à inteligência dos diálogos, estreou esta semana o filme Academia das Musas, de José
Luis Guerín (visto pelo Cinéfilo Preguiçoso no ano passado).