O que
terá acontecido ao filme Hitchcock/Truffaut,
de Kent Jones (2015), com estreia prevista para Setembro? Não se sabe. Além
disso, quando se consulta a lista de estreias até ao fim deste mês em
Portugal, parece não haver um único título capaz de convencer o Cinéfilo
Preguiçoso a deslocar-se a uma sala de cinema. Restam os DVDs, mas às vezes
fazem-se compras que depois suscitam arrependimento. Se um dia, por falta de
espaço, o Cinéfilo Preguiçoso decidir livrar-se de alguns filmes, o documentário
Na Cave, de Ulrich Seidl (2014),
parece um forte candidato à eliminação, logo seguido por Chocolate, de Lasse Halström (2000), que um dia veio de graça com
um jornal. O que há nas caves dos austríacos filmados por Seidl? Coisas
bizarras, mas francamente desinteressantes: colecções de objectos relacionados
com Hitler, carreiras de tiro onde se desenrolam conversas racistas, troféus de
caça, equipamento para práticas sadomasoquistas, bonecos representando bebés de
modo bastante realista, móveis que foram «muito caros». Como fantasmas tão insistentes
que acabam por parecer inofensivos, os proprietários das caves vão reaparecendo
ao longo do filme, geralmente filmados em planos frontais repetitivos e
monótonos, reencenando práticas e dizendo inanidades. Apesar de haver
diferenças importantes entre as diversas figuras que se prestam a ser filmadas,
estas são equiparadas, como se houvesse entre elas uma ligação explicativa mais
abrangente que as transforma em actantes da mesma doença. O filme parece conter
uma advertência moral (cuidado com as coisas subterrâneas), mas não chega
propriamente a ser satírico, por ser tanta a mediocridade documentada. Cai no
ridículo quando tenta que o espectador partilhe a sua tentativa de
ridicularizar os intervenientes. Fica-se
a pensar se o que não é subterrâneo na Áustria não será muito mais
perigoso. Quem conseguir chegar ao fim do filme precisará de um antídoto para
reanimar os neurónios atordoados: para um retrato inteligente e realmente
mordaz da Áustria, recomenda-se a leitura da obra de Thomas Bernhard.