La La Land (Damien Chazelle, 2016), à semelhança de
Whiplash (2014), segunda
longa-metragem do mesmo realizador, é um filme sobre artistas e os seus sonhos.
Em ambos os filmes encontramos as ideias de que não só a arte vale todos os
sacrifícios como as ambições artísticas se concretizarão se estivermos
dispostos a sacrificar tudo o resto. Whiplash
leva esta ideia a um limite no mínimo duvidoso, explorando a hipótese de um
professor exigente e violento poder despertar, recorrendo à intimidação, «um
grande artista» nos seus alunos – se estes tiverem realmente talento e não
morrerem antes numa tentativa tresloucada qualquer para satisfazerem todos os
caprichos do mestre. La La Land gira
em torno de um par romântico, composto por uma aspirante a actriz (Emma Stone)
e um pianista de jazz (Ryan Gosling) que sonha comprar um bar para poder tocar
e defender a música de que gosta. Por ser um filme estilizado, com uma
abordagem visual retro, é frequente a
acção não parecer situar-se no século XXI – certos elementos, como o
guarda-roupa ou o escasso recurso a telemóveis na comunicação entre as
personagens, confundem um pouco as coordenadas temporais. As canções deste
musical, contudo, têm letras nitidamente contemporâneas e infelizmente um pouco
decorativas, contrastando com as canções do período áureo dos musicais de
Hollywood, que muitas vezes correspondiam às sequências mais belas e decisivas
do filme. Note-se, no entanto, que La La
Land não é tão bom nem tão mau como se comentou quando estreou. Não é um
filme maçador, apesar do tom escapista e de as questões em que faz pensar estarem
bem disfarçadas sob o aparato visual e musical. Os musicais de outrora, como Um Americano em Paris (Vincente
Minnelli, 1951), invocado directamente perto do fim, na sequência de história
alternativa sobre como poderia ter sido a vida dos protagonistas se tivessem
tomado outras decisões, tinham finais inequivocamente felizes. O final de La La Land é ambíguo. Os protagonistas
concretizaram os sonhos profissionais, mas só depois de se sacrificarem
mutuamente. Não há dúvida de que tanto os tempos que vivemos como os filmes que
vemos são outros – resta saber se mais realistas ou simplesmente mais
mesquinhos.