21 de maio de 2017

La La Land


La La Land (Damien Chazelle, 2016), à semelhança de Whiplash (2014), segunda longa-metragem do mesmo realizador, é um filme sobre artistas e os seus sonhos. Em ambos os filmes encontramos as ideias de que não só a arte vale todos os sacrifícios como as ambições artísticas se concretizarão se estivermos dispostos a sacrificar tudo o resto. Whiplash leva esta ideia a um limite no mínimo duvidoso, explorando a hipótese de um professor exigente e violento poder despertar, recorrendo à intimidação, «um grande artista» nos seus alunos – se estes tiverem realmente talento e não morrerem antes numa tentativa tresloucada qualquer para satisfazerem todos os caprichos do mestre. La La Land gira em torno de um par romântico, composto por uma aspirante a actriz (Emma Stone) e um pianista de jazz (Ryan Gosling) que sonha comprar um bar para poder tocar e defender a música de que gosta. Por ser um filme estilizado, com uma abordagem visual retro, é frequente a acção não parecer situar-se no século XXI – certos elementos, como o guarda-roupa ou o escasso recurso a telemóveis na comunicação entre as personagens, confundem um pouco as coordenadas temporais. As canções deste musical, contudo, têm letras nitidamente contemporâneas e infelizmente um pouco decorativas, contrastando com as canções do período áureo dos musicais de Hollywood, que muitas vezes correspondiam às sequências mais belas e decisivas do filme. Note-se, no entanto, que La La Land não é tão bom nem tão mau como se comentou quando estreou. Não é um filme maçador, apesar do tom escapista e de as questões em que faz pensar estarem bem disfarçadas sob o aparato visual e musical. Os musicais de outrora, como Um Americano em Paris (Vincente Minnelli, 1951), invocado directamente perto do fim, na sequência de história alternativa sobre como poderia ter sido a vida dos protagonistas se tivessem tomado outras decisões, tinham finais inequivocamente felizes. O final de La La Land é ambíguo. Os protagonistas concretizaram os sonhos profissionais, mas só depois de se sacrificarem mutuamente. Não há dúvida de que tanto os tempos que vivemos como os filmes que vemos são outros – resta saber se mais realistas ou simplesmente mais mesquinhos.