(O
Cinéfilo Preguiçoso agradece ao inventor do DVD o rasgo de génio que permitiu a
tantos cinéfilos desfrutarem do cinema em casa nos fins-de-semana frios de Inverno.)
Ao contrário do que acontece no recente Mr Turner (2014), em Topsy-Turvy (1999)
Mike Leigh explora o processo colectivo de criação (neste caso, a ópera The Mikado
de Gilbert e Sullivan, estreada em 1885) em vez do esforço de um único
indivíduo. Fazendo lembrar obras como La Nuit Américaine (François Truffaut,
1973) ou State and Main (David Mamet, 2000), o filme desloca o seu foco de
personagem para personagem ao sabor dos caprichos e conflitos entre estas. Além
das componentes técnicas (óscares para guarda-roupa e maquilhagem),
previsivelmente irrepreensíveis, Topsy-Turvy vale em grande medida pela
maneira como gere o fluxo de diálogos, ensaios, choques de personalidades e
números musicais, deixando sempre espaço para momentos de revelação de
dimensões e profundidades inesperadas das personagens.