Miranda
July, de quem se tem falado muito ultimamente a propósito da publicação do seu
primeiro romance (The First Bad Man), é daqueles raros casos de talento que
se estende à literatura, à performance, à realização, à interpretação e à
música com doses comparáveis de dedicação e apreciação crítica. Aproveitando
mais uma semana de vacas magras no que respeita a estreias, o Cinéfilo
Preguiçoso viu em DVD The Future (2011), a segunda longa-metragem desta
artista. Neste filme, protagonizado pela própria realizadora e por Hamish
Linklater, o medo do futuro é explorado em níveis muito diversos que coexistem
sem se contaminar: o metafórico, o literal, o lúdico e o trivial combinam-se
para exprimir as inquietações e interrogações de um casal suscitadas pela
decisão, aparentemente banal, de adoptar um gato (cuja voz antropomorfizada
pontua de forma tocante e cómica todo o filme). Alguns elementos que vão talvez
longe de mais na escala da gratuitidade não comprometem uma obra poderosa e
inteligente. Na sua falsa ingenuidade, The Future suscita a reflexão na mesma
medida em que tantos filmes supostamente com mensagem nos deixam indiferentes.