A
história da pintora Margaret Keane e do seu marido Walter, que assumiu
fraudulentamente a autoria dos famosos quadros representando crianças de olhos
desmesurados, é contada com linearidade e sem os excessos visuais de obras como
Sweeney Todd (2007) ou Sleepy Hollow (1999), ao ritmo de um argumento
frouxo onde abundam os efeitos dramáticos fáceis. Os poucos temas que suscitam
interesse, como a discussão sobre se a apreciação da arte depende das histórias
e das práticas em torno do acto artístico (Walter perde credibilidade a partir
do momento em que deixa de conseguir inventar uma biografia adequada ao criador
da sua suposta obra) são tratados com superficialidade. O desempenho
caricatural e cabotino de Christoph Waltz contribui para destruir o potencial
da personagem de Walter, sem dúvida a mais intrigante e rica em ambiguidades. Sai-se
da sala a desejar que Tim Burton se reencontre com o estilo de obras como
Eduardo Mãos de Tesoura (1990) e Ed Wood (1994), filmes de saudosa memória
em que a fantasia visual era indissociável da caracterização das personagens e
não um mero efeito decorativo.