9 de março de 2015

Big Eyes




A história da pintora Margaret Keane e do seu marido Walter, que assumiu fraudulentamente a autoria dos famosos quadros representando crianças de olhos desmesurados, é contada com linearidade e sem os excessos visuais de obras como Sweeney Todd (2007) ou Sleepy Hollow (1999), ao ritmo de um argumento frouxo onde abundam os efeitos dramáticos fáceis. Os poucos temas que suscitam interesse, como a discussão sobre se a apreciação da arte depende das histórias e das práticas em torno do acto artístico (Walter perde credibilidade a partir do momento em que deixa de conseguir inventar uma biografia adequada ao criador da sua suposta obra) são tratados com superficialidade. O desempenho caricatural e cabotino de Christoph Waltz contribui para destruir o potencial da personagem de Walter, sem dúvida a mais intrigante e rica em ambiguidades. Sai-se da sala a desejar que Tim Burton se reencontre com o estilo de obras como Eduardo Mãos de Tesoura (1990) e Ed Wood (1994), filmes de saudosa memória em que a fantasia visual era indissociável da caracterização das personagens e não um mero efeito decorativo.