Depois de
um longo cortejo de adiamentos e falsos alarmes, As Nuvens de Sils Maria (2014) estreou
finalmente e o Cinéfilo Preguiçoso confirma que valeu a pena esperar. A décima
quinta longa-metragem realizada por Olivier Assayas é um filme de uma
complexidade, ambição e inteligência que contrastam salutarmente com a maioria
das propostas do panorama cinematográfico actual. O enredo gira em torno de
Maria (Juliette Binoche), uma actriz que deve a sua fama ao facto de ter sido
escolhida, em início de carreira, para a peça de um dramaturgo consagrado. Anos
mais tarde, aceita retomar a peça, desta vez no papel de uma mulher de meia-idade
que mantém uma relação tensa e ambígua com a personagem da jovem que
representou outrora. Para se preparar, isola-se com a assistente (Kristen
Stewart) no chalé do dramaturgo recém-falecido. O filme explora as dificuldades
de lidar com a passagem do tempo. Assayas respeita suficientemente a
inteligência do espectador para evitar um desenlace límpido e fechado: permanecem
as dúvidas sobre o que aconteceu realmente à assistente (personagem - real ou
imaginária? - que personificava as dúvidas e os conflitos de Maria), e a
reacção da actriz à proposta de um jovem realizador (que lhe sugere um papel
que parece anular o peso do factor tempo) é ambígua. Sendo Assayas um antigo
crítico dos Cahiers du Cinéma e um cinéfilo ecléctico, não surpreendem os
numerosos ecos cinematográficos, voluntários ou não: O Raio Verde (Éric
Rohmer, 1986 - importância de um fenómeno atmosférico), Swimming Pool (François
Ozon, 2003 - relação tensa entre uma escritora e uma mulher mais jovem, talvez
imaginada), Persona (Ingmar Bergman, 1966 - actriz em crise, isolada com a
mulher que a tenta ajudar).