Os filmes
de Terrence Malick sempre suscitaram alguma ambivalência ao Cinéfilo
Preguiçoso. No caso de Badlands (1973), esta ambivalência resolve-se pela
positiva; noutros casos, como o grandiloquente The Tree of Life (2011), este
cinema desencadeia a rejeição e a impaciência. A dificuldade fundamental da
estética do realizador parece residir num certo fascínio pela superfície das
coisas e dos acontecimentos, paradoxalmente associado à insistência em procurar presenças e significados mais profundos. Este é simultaneamente o
elemento mais forte e mais fraco do cinema de Malick. No seu pior, esta
característica produz sequências totalmente decorativas, quase a resvalar, ou
resvalando mesmo, para o anúncio publicitário de perfumes ou de moda (pessoas
bonitas a correr em paisagens bucólicas, efeitos de luz, pássaros a voar,
crianças a brincar ou a andar de bicicleta, voz-off enunciando verdades
supostamente profundas geralmente relacionadas com sentimentos, etc.). No seu
melhor, no entanto, os filmes de Malick deixam o espectador a pensar sobre a
presença humana no mundo. A Essência do Amor (tradução de To the Wonder,
real. Terrence Malick, 2012) está entre o melhor e o pior de Malick. Percebe-se
que sob a história de uma relação que corre mal entre Neil (o inexpressivo Ben
Affleck) e Marina (a ornamental Olga Kurylenko), sobre a qual se enxerta o
comentário de um padre em plena crise espiritual (Javier Bardem), há de facto
preocupação em pensar sobre diversos tipos de amor e sobre o que significa
estar vivo, mas os elementos mais decorativos do cinema deste realizador diluem
as percepções fugazes que o filme propicia. Obviamente, alguém que se sinta
próximo deste tipo de estética dirá que Malick pretende precisamente construir
e explorar estes desequilíbrios. Neste sentido, A Essência do Amor é um filme
conseguido e plenamente coerente com o resto da obra de Malick, mas de que nem todos
conseguirão gostar.