20 de julho de 2015

Dois Dias, Uma Noite




O enredo de Dois Dias, Uma Noite (real. Luc e Jean-Pierre Dardenne, 2014 - passou nas salas portuguesas há alguns meses e pode agora ser visto em DVD) cabe em poucas linhas: durante um fim-de-semana, Sandra, operária numa fábrica de painéis solares na região de Liège, tenta convencer os colegas de trabalho a votarem contra o seu despedimento, ainda que isso implique perderem um bónus individual de mil euros. Os irmãos Dardenne não abdicam do seu registo habitual (câmara ao ombro, naturalismo, estilo próximo do documentário), que parece repousar na convicção de que a proximidade constante da personagem principal suscitará no espectador a empatia que uma encenação mais sofisticada diluiria. Curiosamente, a própria Sandra (Marion Cotillard) serve-se, de forma consciente ou não, do mesmo princípio: face a face com os colegas que irão decidir a sua sorte, a exposição do seu drama adquire outra pungência e leva alguns deles a apoiá-la. Devido a este dispositivo dramático, gerido com profissionalismo mas rudimentar, o filme acaba por se resumir a pouco mais do que o retrato episódico de uma mulher a atravessar uma crise. A escolha de uma estrela como Cotillard foi uma aposta arriscada que não conheceu sucesso total: o seu desempenho intenso e competente nunca consegue dissipar a sensação de estarmos perante um corpo estranho na obra dos Dardenne, que costumam optar por protagonistas desconhecidos ou colaboradores de longa data. Quanto ao final, soa a falso a tentativa de escolher uma terceira via (nem despedimento nem final feliz) propícia a uma conclusão salvífica e optimista.