9 de novembro de 2015

As Irmãs Brontë



A colecção de DVDs 120 Anos de Cinema Gaumont oferece aos cinéfilos deste país, por um preço simpático, a possibilidade de rever obras de realizadores como Godard (Paixão, Atenção à Direita), Renoir (Toni) ou Vigo (A Atalante), entre outros. André Téchiné, cujos filmes têm estreado com alguma regularidade em Portugal, está representado pela sua quarta longa-metragem: As Irmãs Brontë, de 1979. Esta obra pode ser considerada uma raridade na filmografia do realizador, pelo seu carácter biográfico e pelo trabalho de reconstituição histórica. O período abarcado desenrola-se entre 1834 e 1852. É-nos mostrada a vida quotidiana nas charnecas solitárias do Yorkshire, a estadia de Charlotte (Marie-France Pisier) e Emily (Isabelle Adjani) em Bruxelas, o desgosto amoroso do irmão das escritoras, Branwell (Pascal Greggory), antes do seu descalabro físico e morte, a celebridade literária das irmãs (sob pseudónimos masculinos), as mortes de Emily e Anne (Isabelle Huppert) e a crescente intimidade entre Charlotte e o homem com quem viria a casar. Do princípio ao fim, o filme é esteticamente coerente e fiel a um objectivo: representar momentos escolhidos das vidas destas criaturas extraordinárias, abdicando do pathos ou de qualquer veleidade de virtuosismo. Não existe aqui um projecto teórico com o fim de recorrer à vida para explicar a obra. Contudo, os interiores soturnos e opressivos, a não menos opressiva imensidão das charnecas que Emily percorre a pé, os episódios domésticos, todos eles evocam com um pudor notável os ambientes e as personagens que viriam a povoar os romances que trouxeram fama global às irmãs. O esboço de vida mundana que Charlotte protagoniza, no final do filme, ajuda a realçar a extrema solidão que ela e os irmãos viveram e que serviu de cadinho para os romances que produziram. Uma palavra final para o trabalho magnífico do grande Bruno Nuytten na fotografia, assim como para as aparições especiais do crítico e realizador Pascal Bonitzer (co-argumentista deste filme) e (mais surpreendentemente) de Roland Barthes, no papel do romancista William Thackeray.