30 de novembro de 2015

She’s Funny That Way | Steve Jobs



She’s Funny That Way (Peter Bogdanovich, 2014) recupera a sempiterna personagem da prostituta com bom coração, neste caso representada por Imogen Poots. Curiosamente, a actriz Lucy Punch, que aqui representa outra call girl, já aparecia num papel semelhante em You Will Meet a Tall Dark Stranger (Woody Allen, 2010). (Aliás, Allen é contumaz neste tipo de personagem: recorde-se ainda, por exemplo, Deconstructing Harry ou Mighty Aphrodite.) A comicidade do filme de Bogdanovich assenta nas falhas de informação de umas personagens relativamente às outras: há sempre alguém que sabe alguma coisa sobre outra pessoa que esta preferiria que fosse segredo. Um dos momentos mais hilariantes é o primeiro dia de ensaio da peça, altura em que todas as personagens já sabem tudo o que há para saber umas das outras e têm de viver com isso. O filme nunca cumpre as expectativas que chega a criar, mas assinale-se  a homenagem à comédia screwball.

Steve Jobs (Danny Boyle, 2015), é um biopic que tenta fugir aos mais nefastos hábitos e convenções do género, com sucesso relativo. Algumas escolhas estéticas (como o uso sucessivo de três formatos diferentes – 16 milímetros, 35 milímetros e digital) e a gestão hábil da tensão dramática graças ao argumento do excelente Aaron Sorkin, fazem do filme um objecto interessante, mas nunca mais interessante do que o próprio biografado. Por mais cândida que seja a exposição das falhas de carácter do fundador da Apple, o final (dia do lançamento do iMac) resvala com demasiada facilidade para a apoteose.