2 de novembro de 2015

Le Saphir de Saint-Louis | The Outrage



Este ano, o Cinéfilo Preguiçoso só assistiu a uma sessão do Doclisboa, aquela que reuniu Le Saphir de Saint-Louis, de José Luis Guerín (2015), e The Outrage, de Marc Karlin (1995). A pintura e as suas projecções na vida e na História são o denominador comum destes dois filmes. Da obra do espanhol José Luis Guerín, além dos filmes que foram passando no Doclisboa, o público português conhece pelo menos o poético Comboio de Sombras (1997), que estreou em sala, podia conhecer Na Cidade de Sílvia (2007), porque vale a pena e é fácil de obter em DVD, e poderá ver A Academia das Musas (2015) no LEFFEST. Le Saphir de Saint-Louis localiza-se na Catedral de Saint-Louis em La Rochelle, prestando atenção aos pormenores de uma pintura que recorda uma tragédia ocorrida em 1741 numa escuna que transportava escravos. É notável como a exploração meticulosa de alguns centímetros quadrados de tela evoca tão poderosamente a História, a geopolítica e a tragédia humana em toda a sua crueza. Realizado por Marc Karlin (1943-1999), ‘o realizador desconhecido mais importante a trabalhar no Reino Unido durante as últimas três décadas do século XX’ segundo um obituário, The Outrage parte da pintura de Cy Twombly para produzir uma reflexão mais geral sobre a importância da beleza e da arte na vida das pessoas, um tema controverso que, mesmo neste filme, dá origem aos depoimentos mais contraditórios. Apesar de se apoiar numa estrutura supostamente narrativa, alegadamente contando a história de M, uma personagem que vê a sua vida insignificante abalada pelas reflexões suscitadas por um quadro de Cy Twombly, The Outrage transcende de vários modos estas coordenadas mais convencionais e é um filme verdadeiramente livre, propondo uma abordagem original de um tema já discutido até à exaustão. Ainda bem que todos os anos é possível ver filmes sobre arte e museus no Doclisboa.