18 de janeiro de 2016

Hannah Arendt




A característica mais invulgar do filme Hannah Arendt, de Margarethe von Trotta (2012), é ter como protagonista uma filósofa. Não é todos os dias que se realizam filmes com temáticas relacionadas com a filosofia. Além disso, é difícil encontrar mulheres que recebam atenção na História desta actividade.
Como filmar o pensamento, algo supostamente interior? Em Hannah Arendt, encontramos pelo menos três maneiras de resolver esta dificuldade.
Primeiro, o eixo central representa e explora um ataque ao pensamento. Este filme gira em torno de um episódio específico – o julgamento do nazi Adolf Eichmann que decorreu em Israel entre 1961 e 1962 –, abordado nos artigos polémicos que a filósofa escreveu sobre este assunto para a revista New Yorker. Nestes textos, Arendt (interpretada por Barbara Sukowa) descreveu o nazismo como um atentado à própria actividade de pensar. Visto que, de acordo com Arendt, pensar implica o “eu” num “nós” maior, que corresponde à humanidade, qualquer tipo de genocídio só pode derivar da incapacidade de pensar ou de um fracasso do pensamento.
A segunda maneira como este filme mostra o pensamento é explorando as reacções que a actividade de pensar, quando é verdadeiramente independente, pode desencadear (discussões, incompreensões, inimizades, ataques, cartas de protesto, ameaças, etc.) de ambas as partes em questão.
Por último, mas tão ou mais importante, o filme não ignora uma terceira dimensão do processo de pensar, mais individual, intimista e difícil de captar, através da qual testemunhamos o quotidiano de Hannah Arendt, a dar aulas, a cozinhar, em conversa com o marido, com a amiga Mary McCarthy ou com a assistente, mas também sozinha, a reflectir, debatendo-se com a dificuldade de escrever, deitada num sofá, a fumar, olhando pela janela ou caminhando. Não é por acaso que Hannah Arendt termina precisamente com um plano na penumbra da protagonista estendida num sofá, em silêncio, simplesmente a fumar e a pensar.