O
panorama de filmes em exibição nas salas é de tal forma rico e variado que o
Cinéfilo Preguiçoso optou, mais uma vez, por ficar no conforto do lar, recorrendo
à sua colecção crescente de DVDs. Broadway
Danny Rose (1984), a longa-metragem que Woody Allen realizou imediatamente
após Zelig (1983), partilha com esta os
actores principais (Mia Farrow e o próprio Woody), assim como a esplêndida
fotografia a preto e branco de Gordon Willis. Danny Rose é um agente cujo
portefólio inclui artistas menores e bizarros, que dispensam invariavelmente os
seus serviços quando (e se) alcançam algum sucesso. A história de Rose, e em
particular o seu envolvimento com o crooner
Lou Canova (representado por Nick Apollo Forte, que, incrivelmente, não
participou em nenhum outro filme nem antes nem depois deste), é contada numa
roda de amigos – um esquema que Woody voltaria a empregar, vinte anos mais
tarde, em Melinda and Melinda (2004).
O ambiente é urbano (Nova Iorque, claro está) e povoado por uma fauna de
comediantes, empresários, artistas e proprietários de salas de espectáculos. Quase
todas as personagens assumem contornos físicos bastante fellinianos. Este meio,
que Woody conhece intimamente, serve de cenário a uma história simples e
humana, com doses moderadas de burlesco e sentimentalismo. O final é discreto:
há um travelling e há uma
reconciliação, mas filmados com um distanciamento e uma ausência de pathos que prenunciam o último plano, que
ecoa aquele que encerra Annie Hall
(1977). O tráfego anónimo que substitui a presença humana sugere pudicamente
que qualquer final feliz seria um falso final, provisório e vulnerável ao
tempo.