Não se
pode acusar Terrence Malick de ser um tarefeiro; cunho pessoal e visão estética
nunca faltaram aos seus filmes. Cavaleiro
de Copas/Knight of Cups (2015) mostra uma abordagem estilística reconhecível
por quem viu The Tree of Life (2011)
e A Essência do Amor/To the Wonder (2012), os filmes da
fase pletórica de Malick (cinco longas-metragens em cinco anos, incluindo uma
por estrear e uma em pós-produção), que se seguiu à sua fase parcimoniosa
(quatro longas-metragens em trinta e dois anos). Esta abordagem caracteriza-se por
movimentos de câmara vertiginosos, fragmentação da estrutura cronológica e
dissonância entre a banda sonora e a imagem. O conteúdo, esse, relaciona-se
sempre com o significado da vida, as consequências das acções e as recordações
e o arrependimento que tais acções suscitam. Sente-se na maneira como Malick
filma uma intenção de superar a distinção entre a forma e o conteúdo, mas esse
propósito acaba por redundar numa submissão do enredo e das suas implicações morais
à estética que o cineasta imprime. O que permanece depois do visionamento de Knight of Cups é uma sucessão de imagens
e situações fugidias, independentes dos dilemas de consciência do protagonista
(Christian Bale, um argumentista de Hollywood atormentado por problemas
familiares e sentimentais e pela vacuidade da vida em geral) e do substrato
filosófico/esotérico em que cabem The Pilgrim’s
Progress, o Tarot e uma associação implícita à Divina Comédia («Nel mezzo del cammin…»). Apesar de ser
menos grandiloquente do que The Tree of
Life (felizmente, não há um único dinossáurio entre o elenco) e menos
irritantemente superficial do que To the
Wonder, e ainda que não faltem momentos genuinamente belos e
surpreendentes, Knight of Cups confirma
o beco sem saída por onde Malick parece ter voluntariamente enveredado. O facto
de esse percurso resultar de uma tentativa de inovar e superar códigos e
cânones só é paradoxal na aparência.