No IndieLisboa, o Cinéfilo Preguiçoso não viu os
filmes de Whit Stillman e de Mia Hansen-Løve porque acredita ingenuamente que
estes estrearão em breve nas salas de cinema. Em relação ao filme de Eugène
Green que passou no festival, seria difícil manter a mesma crença. Temos de
agradecer ao IndieLisboa a possibilidade de ver em sala os trabalhos mais
recentes deste realizador tão singular. No festival do ano passado vimos La Sapienza (2014) e este ano não
perdemos Le fils de Joseph (2016),
pelo que pudemos comprovar que Eugène Green continua a fazer os filmes que bem
lhe apetece, totalmente distintos do que se pode ver por aí. Tematicamente, Le fils de Joseph gira em torno da
relação entre pai e filho, não se esquecendo de explorar algumas referências
bíblicas como a fuga para o Egipto da sagrada família ou a história de Abraão e
Isaac. Como acontece em La Sapienza,
o pretensiosismo e o humor involuntário de certas conversas são um dos alvos
preferidos de Green. Em Le fils de Joseph,
o contexto destas conversas é o meio literário: Oscar Pormenor (Mathieu
Amalric) é um editor irascível; há lançamentos de livros dominados por
conversas de chacha; Maria de Medeiros encarna Violette Tréfouille, uma crítica
de livros inculta mas muito social. Outro dos traços distintivos do cinema de
Eugène Green é a capacidade de captar o mistério dos actores: reincidentes em
filmes deste realizador, Fabrizio Rongione e Natacha Régnier continuam
extraordinários. Embora Green não seja dado à defesa militante de ideais ou
pontos de vista estéticos, a sua atitude é de resistência: como Straub/Huillet
ou Rohmer, faz os filmes que quer fazer, alheio a tendências e a flutuações do
gosto – essa é a ideia que transmite ao cinéfilo agradecido.