Desta vez a escolha do Cinéfilo Preguiçoso recaiu sobre A Lagosta (2015), de Yorgos Lanthimos, realizador grego que adquiriu grande notoriedade desde Canino (2011). Tal como este, A Lagosta descreve um mundo fechado e regido por leis rígidas, aplicadas com violência extrema. O percurso da personagem principal, David (Colin Farrell, numa interpretação sóbria e eficaz), vai permitindo ao espectador descobrir as regras de uma sociedade que desencoraja a solidão e a condição de solteiro, ao ponto de ser dado aos cidadãos desemparelhados um prazo para encontrarem um companheiro, findo o qual serão transformados num animal à sua escolha. Lanthimos tenta, com sucesso variável, fazer a atenção atribuída às peripécias vividas por David coexistir com os significados metafóricos do filme, mais ou menos subtis. A Lagosta funciona melhor quando aposta no humor negro e menos bem quando se desdobra em novas ramificações e subenredos para refinar a componente de crítica social. A impressão geral é a de um filme engenhoso e muito meditado, mas que faz lembrar demasiadas vezes o pior Haneke e deixa o espectador a suspirar pelo melhor Kubrick. Na coluna dos activos, mencione-se ainda a fotografia e os cenários: a alternância entre o hotel antiquado onde os solitários esperam pela alma gémea ou pela metamorfose, a floresta frondosa onde David encontra um exército de rebeldes (tão fanáticos na defesa do celibato como os seus oponentes na imposição da conjugalidade) e o ambiente urbano anónimo da grande cidade contribui para a atmosfera distópica. A Lagosta recebeu o prémio do júri do festival de Cannes de 2015 (presidido pelos irmãos Coen).