Interessado
nos temas da conquista do espaço e da matemática, o Cinéfilo Preguiçoso viu Elementos Secretos, de Theodore Melfi
(2016), um filme baseado no livro Hidden
Figures: The Untold Story of the African American Women Who Helped Win the
Space Race, de Margot Lee Shetterly. Retratando o trabalho em torno da
preparação do voo espacial de John Glenn, o primeiro americano a orbitar a
Terra, Elementos Secretos tem como
protagonistas Katherine Johnson, Dorothy Vaughan e Mary Jackson (Taraji P.
Henson, Octavia Spencer – nomeada para o Óscar de melhor actriz secundária
graças a este papel – e Janelle Monáe), mulheres negras que, num tempo em que a
cor da pele podia ser considerada uma marca de inferioridade, conseguiram alguma
realização profissional na NASA graças ao conhecimento de matemática, à garra e
ao talento. O mais interessante deste filme relaciona-se com a reconstituição
do contexto histórico tanto do programa espacial dos EUA, em competição com a
URSS durante a Guerra Fria, como da segregação racial ainda vigente em alguns estados
norte-americanos em 1962 (incluindo o estado da Virgínia, onde se situa o centro de investigação da NASA em questão) e das dificuldades acrescidas que esta situação impunha (por exemplo, zonas
especificamente para negros em espaços públicos como autocarros, bibliotecas,
casas de banho, etc.). Principalmente na segunda metade, destaca-se também o
esforço de representar as dimensões concretas do trabalho das protagonistas e
dos seus colegas: os cálculos, as dificuldades, a engenharia das
máquinas, a adaptação aos primeiros computadores. No fim, a
apresentação de fotografias da época que serviram de apoio à reconstituição
histórica é cativante, chegando a ser comovente quando nos mostra os verdadeiros
rostos das mulheres que inspiraram o filme. Tendo em conta a riqueza do
material de base, Elementos Secretos
poderia ser realmente interessante se não insistisse de modo quase
exasperante em certos lugares-comuns de filmes sobre mulheres – festas,
piqueniques, casamentos, convivência –, como se não fosse possível caracterizar
personagens femininas sem estas referências, mesmo num filme que denuncia
atitudes discriminatórias contra as mulheres. Tal como é, não pode ser
considerado propriamente uma perda de tempo, mas fica muito abaixo das
expectativas.