O filme Eisenstein in Guanajuato (Peter
Greenaway, 2015), visto esta semana em DVD, relata um episódio da vida do
Serguei Eisenstein (1898-1948) que tem lugar depois da estadia nos Estados
Unidos deste realizador soviético a convite da Paramount, em 1930. Apesar da
consagração internacional graças a filmes como A Greve (1925), O Couraçado
Potemkine (1925) e Outubro
(1928), Eisenstein não foi bem recebido pelos americanos, talvez por receio de uma
qualquer influência comunista. Por esse motivo, o realizador, beneficiando do
incentivo e do apoio financeiro de um grupo de intelectuais de esquerda,
decidiu partir para o México com o objectivo de ali realizar um filme sem muito
financiamento. O filme de Greenaway centra-se em Guanajuato porque Eisenstein,
pretendendo filmar uma espécie de «museu dos vivos», passa pela cidade para visitar
o Museu das Múmias, um «museu dos mortos», onde estão expostos os corpos
mumificados por processos naturais que foram exumados dos túmulos do Panteão
Municipal de Santa Paula. Com um material de base tão rico, as expectativas do
Cinéfilo Preguiçoso eram elevadas. Greenaway encontra neste episódio terreno
fértil para algumas das suas obsessões principais: o falhanço do acto criativo,
a materialidade dos corpos, a relação entre a pulsão sexual e a pulsão
artística, a presença da morte. Ainda assim, parece incapaz de trabalhar
competentemente aquelas que deveriam ser as duas referências mais importantes
do filme: Eisenstein e a cultura mexicana. Num filme sobre Eisenstein
esperar-se-ia que a estética do realizador soviético tivesse mais impacto
criativo, contaminando a estética de Greenaway. Do mesmo modo, as referências à
cultura mexicana neste filme são turísticas e decorativas, nunca exercendo
influência decisiva. Por conseguinte, ficamos com um filme com enquadramentos, cenários,
personagens e cenas que qualquer fã de Greenaway já conhece de cor e salteado,
com a agravante de a narrativa e o excesso de palavras, debitadas sobretudo
pelo protagonista (Elmer Bäck, num overacting
totalmente descontrolado), assumirem uma importância escusada na obra de um
realizador conhecido e admirado precisamente por defender o cinema
antinarrativo. Eisenstein em Guanajuato
não é um mau filme e, apesar dos seus defeitos, contém mais motivos de
interesse do que 90% dos filmes contemporâneos. Porém, confirma uma tendência
para uma certa acomodação e repetição de fórmulas que decepcionam num autor tão
criativo.